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    Pesquisadores pedem verba para ligar ciência e educação

    ANA ESTELA DE SOUSA PINTO
    DE SÃO PAULO

    21/10/2016 02h00

    BBC
    O cérebro é o órgão que mais consome energia em todo o corpo
    O cérebro é o órgão que mais consome energia em todo o corpo

    O cérebro é o órgão que mais consome energia em todo o corpo. Um bom lanche antes da aula ajuda no aprendizado? E feito de quê?

    Se neurocientistas já mostraram que o sono consolida a memória e o exercício físico aumenta o hipocampo (área do cérebro relacionada à função), vale a pena antecipar a educação física e tirar soneca no final? Por quanto tempo?

    É atrás dessas respostas que um grupo de cientistas e educadores brasileiros lançará a plataforma virtual CpE (Ciência para Educação) e negocia com o BNDES cerca de R$ 10 milhões para montar na UFRJ um laboratório inédito na América Latina.

    O objetivo é unir as pontas da ciência e da didática para acelerar o progresso da educação no Brasil, que é o 57º colocado num ranking de 65 países avaliados pelo Pisa (que avalia a capacidade dos alunos de usar o conhecimento na solução de problemas). A distância é grande: de um total de 600 pontos, os brasileiros atingiram 402. A China, primeira colocada, tem 587. Os dados são de 2012.

    A nota do Brasil vem melhorando, mas num ritmo tão lento que só alcançaria a média da OCDE (grupo de países desenvolvidos) em 2060, diz Roberto Lent, diretor do Instituto de Ciências Biomédicas e professor titular da UFRJ. Isso supondo que a média da OCDE ficasse onde está.

    A vantagem seria a possibilidade de não ficar para trás num campo novo como o da pesquisa científica aliada à educação. Além dos EUA, Austrália e China já "largaram".

    Educação e neurociência

    O primeiro passo já foi dado no Brasil. A Rede Nacional de Ciência para a Educação triou 606 mil teses e dissertações e pré-selecionou 117 mil, de 25.718 orientadores, em campos como computação, neuroeducação, cognição afetiva, avaliação, neuroplasticidade e dislexia, entre outros.

    Separou então 7.301 orientadores com mais de quatro alunos, avaliou a produtividade, mapeou geograficamente os cientistas e criou um software para identificar líderes e grupos de pesquisa.

    A plataforma, que será atualizada a cada seis meses, já está em testes para ser lançada até dezembro, quando ocorre o primeiro congresso nacional da rede, no Rio. Ao longo deste ano, estão sendo feitos encontros para levantar os gargalos de ensino que poderiam se beneficiar da abordagem científica.

    E também para melhorar o diálogo. "A linguagem é diferente e as demandas são distintas", diz Fernando Mazzilli Louzada, coordenador do Laboratório de Cronobiologia Humana da UFPR (Universidade Federal do Paraná).

    "Algumas questões que os cientistas acham prioritárias talvez não sejam. Por outro lado, há resistência de alguns educadores às evidências científicas", diz Louzada.

    "A política educacional brasileira é principalmente ideológica", diz o professor da Faculdade de Letras da PUC-RS, Augusto Buchweit, que acompanha 500 crianças em três cidades para entender o aprendizado da leitura.

    Alfabetização será um dos quatro troncos principais da rede CpE. Os outros serão fatores fisiológicos (sono, nutrição e exercício), socioemocionais e transtornos de aprendizagem. Mas o projeto mais ousado do grupo é a criação do Centro Nacional de Ciência para a Educação, um conjunto de laboratórios preparados para pesquisar o aprendizado.

    O projeto, que será apresentado ao BNDES, inclui uma sala de neuroimagem –que mapeia a atividade cerebral–, uma de multirregistro –que acompanha o movimento dos olhos e reações do corpo após um estímulo, um centro de tecnologia –para desenvolver softwares e games voltados à educação e um laboratório para pesquisas com animais.

    A vantagem de ter um centro especializado é construir ambientes em que as crianças se sintam à vontade de reunir num mesmo espaço pesquisadores de várias áreas com projetos em comum. Declaração recente da presidente do BNDES, Maria Silvia Bastos Marques, de que "gostaria muito que o banco investisse em educação", animou os pesquisadores.

    Para Sidarta Ribeiro, diretor do Instituto do Cérebro e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, o uso de evidências científicas na educação permite otimizar o aprendizado sem que necessariamente seja preciso aumentar os recursos.

    "As crianças já têm merenda na escola. O ganho pode vir ao dar o alimento correto na hora correta", diz o cientista, que desde 2006 faz uma pesquisa pioneira de estudar o sono em ambiente escolar. "Queremos desenvolver processos que sigam a realidade do país e possam ser usados em todas as escolas, não apenas nas de elite", afirma.

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