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    Imagens observadas ao microscópio são transformadas em arte

    GABRIEL ALVES
    DE SÃO PAULO

    05/12/2016 02h00

    Às vezes, em salas escuras e geladas, enquanto tentam decifrar um pouco mais sobre como a vida funciona, alguns biologistas estão também fazendo arte, literalmente.

    As imagens formadas surpreendem pela riqueza de formas e cores, mas raramente são apreciadas por quem não faz parte da academia. A ideia de promover concursos para encontrar as mais belas cenas é contornar esse problema.

    O 3º Concurso de Imagens em Ciências da Vida, realizado pelo ICB (Instituto de Ciências Biomédicas) da USP com apoio da Zeiss, gigante alemã da área de confecção de lentes e produtos ópticos, escolheu as melhores imagens desse ano.

    A fotografia intitulada "Cartilagem flamejante", no alto desta página, foi enviada por Paulo Henrique Alves, atualmente professor da Universidade Federal do Mato Grosso. A figura parece ter sido inspirada no quadro "O Grito", do norueguês Edvard Munch (1863-1944), mas trata-se de fibras de colágeno (uma resistente proteína) de uma articulação presente em vértebras humanas.

    Um filtro faz com que fibras colágenas apareçam em cores que variam entre verde, amarelo, laranja e vermelho dependendo do tipo do colágeno, explica Alves.

    "Essa era apenas mais uma foto entre centenas que tirava diariamente. Busquei alguma que lembrasse algo simples, como o fogo, que pudesse fazer parte do cotidiano de qualquer pessoa e que não fosse uma coisa muito técnica", diz o professor, vice-campeão do concurso.

    A grande vencedora foi a pesquisadora Beatriz Cortez, do Instituto de Biociências da USP, com a imagem batizada de "Divisão Estelar". Embora não tenha competido na categoria de astronomia, ela escolheu o nome depois de observar a cena protagonizada por uma célula cancerosa se dividindo.

    Além da cromatina (associação entre DNA e proteínas no núcleo da célula) em azul, o destaque vai para as "estrelas" ao fundo, formadas por restos celulares. O branco foi escolhido para melhorar o contraste e, no primeiro plano, também identifica os microtúbulos, que compõem o esqueleto da célula.

    A técnica usada por Beatriz se baseia na luz emitida por moléculas fluorescentes e capturada em um microscópio confocal, que "lê" a imagem em várias fatias, produzindo belas imagens.

    Com o auxílio de um microscópio eletrônico de varredura (que produz imagens com elétrons e não com fótons –que formam a luz visível), o doutorando do ICB Diego Cury conseguiu mostrar a beleza de um mundo improvável: a recuperação de tendões de ratos após uma lesão.

    "Achei interessante a morfologia irregular das fibrilas colágenas e a presença de hemácias entre elas. Resolvi colorir de vermelho as hemácias, pois são os famosos glóbulos vermelhos, e o laranja das fibrilas é apenas para combinar."

    O concurso inaugurou nesta edição uma categoria de astronomia, vencida pelo astrônomo amador Marcelo Zurita.

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