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    Para paulistano, ciência é assunto pouco atrativo, diz pesquisa

    REINALDO JOSÉ LOPES
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    03/12/2016 02h00

    Wyss Institute
    Pesquisa foi encomendada pelo Instituto Butantan e realizada pela FSB Pesquisa
    Estudo foi encomendado pelo Instituto Butantan e realizado pela FSB Pesquisa

    Apenas 39% dos paulistanos dizem se interessar por temas científicos, o que colocaria a ciência entre os temas que menos chamam a atenção do público em geral-só a política consegue ser ainda mais desinteressante.

    A indicação vem de uma pesquisa encomendada pelo Instituto Butantan e realizada pela FSB Pesquisa.

    O levantamento ouviu pouco mais de mil pessoas (de ambos os sexos, de todas as classes sociais e com 15 anos ou mais de idade) nas ruas da cidade de São Paulo.

    CIÊNCIA? QUE CIÊNCIA?

    À primeira vista, trata-se de um balde de água fria para a imagem da ciência brasileira. Pesquisas realizadas periodicamente no país todo, a pedido do governo federal, costumam mostrar números bem mais animadores. Nelas, cerca de 60% dos entrevistados afirmam se interessar pelo tema (foi esse o resultado na versão da enquete feita no ano passado).

    Os dados, no entanto, não são exatamente comparáveis, porque o levantamento nacional costuma perguntar ao público sobre o interesse em ciência e tecnologia, e não em ciência apenas.

    "Acredito que o fato de a nossa pesquisa ter abordado ciência de forma isolada é o principal motivo para a diferença no resultado", diz o imunologista Jorge Kalil Filho, diretor do Instituto Butantan. "Tecnologia é um termo mais amplo, que pode incluir, dependendo da visão do entrevistado, computação e até games."

    O tema, aliás, foi incluído na lista de assuntos que os participantes podiam assinalar como os de seu especial interesse, sendo assinalado por 57,6% das pessoas. Educação e medicina e saúde foram os assuntos que mais tiveram destaque nesse quesito, ultrapassando os 70% de interessados.

    Nos EUA, a proporção de interessados em ciência e tecnologia é de 32%, enquanto na Europa é de 53% (os dados são de 2015 e 2013, respectivamente). A pesquisa americana foi realizada pelo Pew Research Center, organização que busca identificar tendências relacionadas aos EUA e ao mundo.

    "Os entrevistados apontaram medicina e saúde como o segundo tema de maior interesse, mas não houve uma correlação explícita e direta da importância da ciência para o desenvolvimento da saúde", analisa Kalil Filho.

    Apesar disso, entre as ideias mais associadas à pesquisa científica na cabeça das pessoas, palavras-chave como "saúde", "cura", e "medicamentos" foram relativamente comuns.

    'É BOA, MAS NÃO CONHEÇO'

    Apesar da dificuldade de comparação, o físico Ildeu de Castro Moreira, professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e especialista em divulgação científica, vê uma semelhança interessante entre o levantamento paulistano e o nacional: o otimismo do público em relação à ciência.

    "Claro que o otimismo é, ou pelo menos costumava ser antes da atual crise, uma característica dos brasileiros em outros temas, mas a visão positiva em relação à ciência contrasta com a de países europeus, por exemplo", compara Moreira.

    Em São Paulo, só um quinto dos entrevistados considera que a importância da ciência para o país é baixa ou muito baixa. A maioria das pessoas concorda que a pesquisa científica é essencial para a saúde pública, para a inovação nas empresas e para diminuir a dependência em relação aos países desenvolvidos.

    Metade das pessoas defende mais investimentos (tanto públicos quanto privados) na área e afirma que teria interesse em doar recursos para pesquisas. Em países como a Alemanha e o Reino Unido, por outro lado, só 25% dos entrevistados acham que é preciso aumentar os recursos para a ciência.

    Por outro lado, apenas quatros entre dez pessoas afirmam conhecer alguma instituição científica brasileira (no Brasil como um todo, esse número cai para 12,4%). Entre os que se lembram de algum órgão específico em São Paulo, o Butantan foi o mais citado (68,5%), seguido pela USP e pela Fapesp (essa última apenas financia pesquisas), ambas com 11,2% das menções.

    Outro dado que chama a atenção são as formas como as pessoas se informam, ou não, sobre ciência. A menor "repulsa" ao tema vem de programas ou documentários na TV. Cerca de 24% afirmou às vezes assistir conteúdo audiovisual relacionado a assuntos científicos.

    Tanto para Moreira quanto para Kalil Filho, deficiências na educação básica são o principal elemento que explica o desconhecimento dos entrevistados sobre o tema.

    "A educação é que faz a diferença para as grandes massas, e temos de reconhecer que o ensino de ciências no Brasil ainda é muito ruim", diz o físico da UFRJ.

    Ele aponta ainda a fragilidade das iniciativas brasileiras de divulgação científica fora da escola.

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