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    Escola de SP incentiva alunos a produzir artigos de ciência

    SALVADOR NOGUEIRA
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    29/01/2017 02h00

    Não basta compreender a ciência; é preciso também saber transmiti-la. Com base nessa premissa, uma escola particular de São Paulo decidiu desenvolver uma disciplina de divulgação científica com seus alunos do Ensino Fundamental.

    "No sétimo ano, os alunos têm aula de prática científica, com a formulação de hipóteses e a realização de experimentos. E aí, no oitavo ano, eles têm introdução à escrita de divulgação científica", explica André Murilo Freddi, biólogo e professor de ciências do Colégio Giordano Bruno, na zona oeste da capital.

    Ao final do ano, o resultado é a publicação de uma revista com artigos escritos pelos alunos sobre temas atuais de ciência.

    Em 2016, foi publicada a quinta edição, e a reportagem de capa deu destaque à busca por exoplanetas habitáveis. Mas não pense que a publicação é monotemática.

    Marcus Leoni/Folhapress
    Crianças do último ano do ensino fundamental participaram de um projeto de divulgação cientÍfica
    Crianças do último ano do ensino fundamental participaram de um projeto de divulgação cientÍfica

    Lado a lado, saíram também artigos sobre seres abissais, fitoplâncton, buracos negros, o sistema de reparos do DNA e o problema médico da fissura labiopalatina (o chamado lábio leporino).

    "A gente basicamente estuda o que é divulgação científica e produz um artigo de divulgação científica com um tema pelo qual os alunos se interessem", diz Laís Schcolnic Ghirotti, 14, uma das autoras do texto sobre fitoplânctons bioluminescentes.

    "A escolha é feita pelos próprios alunos", explica Freddi. "Damos algumas opções e eles escolhem por afinidade o tema que abordarão".

    INOVAÇÃO E COMUNICAÇÃO

    É comum nas escolas particulares a realização de aulas científicas laboratoriais, em que os alunos têm contato com os métodos e desafios da produção científica.

    Também é praxe em algumas escolas ter laboratórios de redação, para aprimorar as técnicas de expressão dos alunos por meio do texto.

    A inovação aí é a combinação dos dois elementos, com um enfoque dedicado à comunicação, mas voltada para a ciência.

    A experiência é bastante rica. Durante o ano, além de fazer pesquisa, os alunos buscam fontes para entrevistar –pesquisadores com atuação relevante ligada às linhas de pesquisa abordadas.

    "A entrevista é um dos momentos mais importantes, pois, com base nas informações obtidas, os alunos definem a área específica do seu artigo", explica Freddi, no editorial da revista.

    Em 2016, ao fim do ano, além de publicar o resultado final de seu esforço na revista distribuída internamente na escola, um grupo de alunos teve a oportunidade de visitar a redação da Folha e ver um pouco do dia a dia da prática profissional do jornalismo de ciência.

    DA PAUTA À MESA DE JANTAR

    Em entrevista à Folha, os alunos dizem como fizeram para fazer escolhas apropriadas para as pautas, com critérios que não podiam se resumir à popularidade, mas precisavam também levar em conta a importância de cada assunto.

    "Talvez o tema melhor fosse asteroides, era o que a gente conhecia mais, era o mais popular, mas aí a gente descobriu os exoplanetas", diz Linneo Christe Adorno Scanavaca, 14. "Achamos que era um tema muito legal e mais importante. São planetas, só que estão fora do Sistema Solar."

    Outra atividade enriquecedora durante o trabalho foi a que os alunos levavam para casa –tentar explicar sua pesquisa aos pais e familiares.

    "Meus pais gostaram e falaram que era um assunto bem legal", diz Giovana Borges Bonfim, 13, que integrou o grupo que escreveu sobre fitoplâncton marinho.

    "Eles falaram até do plâncton do Bob Esponja, mas ele nem é um plâncton, é um krill. Plâncton vive na superfície, krill é mais para baixo."

    ABRINDO A CABEÇA

    Os alunos são unânimes em dizer que a experiência foi valiosa, mesmo para aqueles que não cogitam seguir uma futura carreira como cientistas ou divulgadores de ciência.

    Afinal, é falacioso pensar que, uma vez que se escolha uma futura carreira distante da ciência, nunca mais se ouve falar desses assuntos.

    "O meu trabalho ajuda a ampliar os horizontes das pessoas e informar o público em geral", diz Tarsila Barros Namaguchi, 14, que co-escreveu o artigo sobre exoplanetas.

    Como já alertava o astrônomo Carl Sagan (1934-1996), vivemos numa sociedade em que a vida das pessoas é profundamente influenciada pela ciência e pela tecnologia e, ainda assim, em que as pessoas sabem quase nada sobre ciência e tecnologia.

    Em meio a esse paradoxo, que ajuda a entender de onde vem a dificuldade em lidar com questões de importância social como pesquisas com células-tronco embrionárias ou mudança climática, é razão para otimismo ver iniciativas que encorajam a multiplicação da cultura científica no âmbito escolar.

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    MÃE, OLHA O QUE EU ESCREVI!

    Conheça um pouco de ciência pelo texto dos próprios alunos

    EXISTE OUTRA TERRA?

    Ilustrações Carolina Daffara/Editoria de Arte/Folhapress

    Um exoplaneta é basicamente um planeta extrassolar, ou seja, um planeta que reside em qualquer outro lugar do espaço que não seja em nosso Sistema Solar

    Existem pouco mais de 4.500 exoplanetas conhecidos e um é diferente do outro

    Segundo a Nasa, já foram descobertos entre sete e nove exoplanetas que seriam habitáveis com condições semelhantes à da Terra. Muitos destes foram descobertos pela sonda espacial Kepler

    Mesmo após tantas descobertas nós ainda não paramos e não pararemos! Cada vez estamos aperfeiçoando mais nossos conhecimentos nesta área, mas quando você ouve isso, pode estar se perguntando: de que servem estas descobertas se não podemos aproveitar estes planetas? Qual sua utilidade se não podemos residir neles? Bem... Será que não?

    O que não faltam são exoplanetas, o problema são os exoplanetas habitáveis,que ainda são uma minoria dentro do grupo de exoplanetas. São poucos em que poderíamos sobreviver e menos ainda aqueles em que poderíamos viver com dignidade, mas nenhum é como a Terra. Nada se compara a este planeta, a nossa casa

    Exoplanetas

    Linneo Scanavaca, Luís Felipe Teixeira, Tarsila Namaguchi, Vitor Matsumara

    VAGA-LUMES MARINHOS

    Animais bioluminescentes marinhos

    A princípio, os plânctons não são todos como o plâncton do desenho Bob Esponja, eles podem ter vários tamanhos, formas e espécies. Existem plânctons unicelulares e pluricelulares, aqueles que conseguem produzir uma luz própria e os que não conseguem

    Mas o que são os plânctons? Os plânctons são seres aquáticos que se locomovem na superfície da água de rios, mares e lagos, são a base das cadeias alimentares aquáticas. Alguns plânctons conhecidos são os krills quque são o alimento dos maiores seres aquáticos: as baleias

    Ok, mas o que causa esse suposto brilho no corpo desses seres tão pequenos?

    Assim como o vaga-lume, os plânctons bioluminescentes também emitem luz através de reações químicas. Eles possuem uma membrana em suas células que responde a sinais elétricos e essa pode ser uma das causas para sua bioluminescência. Essa bioluminescência também é usada para despistar os predadores e atrair parceiros sexuais

    Noctiluca é um dos principais plânctons bioluminescentes, sendo unicelular. O crescimento descontrolado desse tipo de organismo é desencadeado por poluição agrícola, que apesar de lindo, pode ser devastador para a vida marinha

    Animais bioluminescentes marinhos

    Giovana Bonfim, Laís Ghirotti, Sophia Santos

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