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    'Pacotinho' de genes gera diversidade de cor em borboletas

    RICARDO BONALUME NETO
    DE SÃO PAULO

    03/02/2017 02h00

    De boba, a borboleta maria-boba não tem nada. Colorida e comum nas regiões nordeste, centro-oeste e sudeste do Brasil, o animal (Heliconius ethilla narcaea) tem um voo lento meio abobalhado, mas nenhum pássaro ousa comê-la. É tóxica e impalatável.

    Não é o único caso. Esse parece ser um traço comum entre borboletas do gênero Heliconius, abundantes nas Américas do Sul e Central, no Caribe e no sul dos Estados Unidos. Se não são venenosas, imitam a cor das asas das suas primas nada apetitosas. Na dúvida, aves predadoras buscam presas mais fáceis.

    A variedade de coloração é impressionante. Uma nova pesquisa publicada nesta semana na revista científica es "Nature Ecology & Evolution" mostrou que bastam poucos genes -e também os intervalos entre eles- para criar a pletora de cores e formas disponíveis em várias raças de uma das espécies, a Heliconius erato.

    Bastou uma "simples caixa de ferramentas de genes" para produzir cerca de 400 formas de cor de asa diferentes e 46 espécies do gênero Heliconius.

    "Menos de 0,2% do genoma foi associado com a diversidade do padrão de asa", afirmam os pesquisadores.

    A pesquisa foi liderada por Riccardo Papa e Steven M. Van Belleghem, ambos da Universidade de Porto Rico. Gilson Rudinei Pires Moreira, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), foi um dos coautores.

    Desde o século 19 o estudo do gênero Heliconius ajudou a entender o mimetismo. O fenômeno ocorre quando uma espécie possui características que evoluíram especificamente para se assemelhar com as de outras espécies. A semelhança é vantajosa, conferindo proteção contra predação para um ou ambos organismos.

    "Elas fazem propaganda do seu grau impalatável. A cor viva chama a atenção para o perigo", diz Moreira.

    Ele lembra que essas borboletas são excelentes modelos para pesquisa biológica. "Radiações adaptativas recentes, como as borboletas do gênero Heliconius, os tentilhões das Galápagos e os peixes ciclídeos africanos oferecem uma visão das forças evolutivas e ecológicas."

    Segundo o professor da UFRGS, uma das grandes descobertas desse novo estudo é "a forte indicação de que esses genes podem atuar em outros grupos de borboletas".

    "Identificar as mudanças genômicas que controlam a variação morfológica e entender como elas geram diversidade é um dos principais objetivos da biologia evolutiva", afirmam os autores,

    Eles fizeram o sequenciamento de 15 genomas de raças de Heliconius erato e 8 de espécies próximas para caracterizar a variação genômica associada à diversidade de padrões de asas.

    "Pela primeira vez, fomos capazes de colocar uma radiação inteira dentro de um único quadro genômico", concluíram os pesquisadores responsáveis pelo estudo.

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