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    Como ser uma boa dançarina? Preste atenção nos quadris e nos braços

    STEPH YIN
    DO "NEW YORK TIMES"

    16/02/2017 16h58

    Eleni Papaioannou/Flickr
    Os pesquisadores pediram para que 200 pessoas avaliassem 39 dançarinas
    Os pesquisadores pediram para que 200 pessoas avaliassem 39 dançarinas

    Se você está lendo isso em casa, pare e coloque uma música que você não consiga resistir: dance. Acompanhe o ritmo da música, solte-se. Balance os braços e as pernas. Caso você esteja no trabalho, pelo menos imagine isso tudo.

    Conforme você dança, preste atenção para onde e como você está se movendo. O quanto você está mexendo os seus quadris? Suas pernas estão sincronizadas ou se movem de forma independente uma da outra? Quão vigorosamente o seu torso está movendo?

    Preste muita atenção nesses movimentos, porque padrões de movimentos bem específicos possivelmente fazem com que algumas pessoas pareçam melhores dançarinas do que outras.

    Essa é a conclusão de um estudo publicado nesta terça (14) na revista especializada "Scientific Reports".

    Os pesquisadores pediram para que 200 pessoas avaliassem 39 dançarinas. Algumas características se destacaram nas pessoas consideradas mais talentosas: grandes balanços de quadril e movimento independente dos membros direito e esquerdo (o que os cientistas descreveram como movimentos assimétricos de braços e pernas).

    Os autores do estudo especulam que essas movimentações têm duas funções para mulheres heterossexuais. "Uma delas é mostrar para homens sua qualidade reprodutiva, talvez o status hormonal", diz Nick Neave, professor associado de psicologia da Universidade Northumbria, na Inglaterra, e um dos autores do estudo. "Outra dessas funções seria mostrar para rivais do mesmo sexo o quão boas elas são."

    Em 2011, os mesmos pesquisadores apresentaram um estudo mostrando que mulheres preferiam certos movimentos de dança feitos por homens, especialmente os mais exagerados na parte superior do corpo.

    Em outros estudos, Neave e seus colegas encontraram conexões entre a atratividade da dança masculina e comportamentos de risco, além de força no punho, um indicador da força geral do corpo.

    "Nós sabemos que a dança oferece sinais de força e vigor em homens", diz Neave. "Agora estamos começando a fazer o mesmo tipo de pesquisa com mulheres."

    Para a pesquisa atual, o grupo de cientistas pediu para que 39 universitárias britânicas dançassem ao som de uma batida de tambor. Os pesquisadores, então, usaram um método de captura de movimento para mapear os passos de dança.

    Para descartar interferências e garantir que somente os movimentos de dança–e não outras características físicas– iriam afetar a avaliação, os cientistas usaram avatares animais para representar cada dançarina.

    Por fim, 57 homens e 143 mulheres foram recrutados para assistir e avaliar clipes de 15 segundos dos avatares dançantes.

    Movimentos de quadril foram uma característica-chave para predizer quão positiva seria a avaliação de uma dançarina. Pesquisadores associam isso a um indicador de feminilidade. "Quando olhamos para homens e mulheres andando, a diferença principal é: eles têm um tipo de balanço nos ombros, enquanto elas têm um certo balanço no quadril", diz Neave.

    Já os movimentos assimétricos dos membros poderiam ser sinalizadores de um bom controle motor.

    Em um primeiro momento, a dança pode ter servido como uma forma de cortejo.

    Apesar do estudo focar na atração sexual e na competição, talvez isso não seja tudo, afirma Helena Paterson, psicóloga da Universidade de Glasgow, na Escócia, que não participou do estudo.

    "Pode estar relacionado também à filiação, amizade e laços com outras pessoas", afirma Helena. "Quando alguém demonstra confiança através da dança, isso pode ser atrativo do ponto de vista da amizade, de querer passar tempo com a pessoa."

    Esse tipo de estudo faz parte de um campo de pesquisa conhecido como cognição social, que tem como objetivo a compreensão de como as pessoas usam pequenas porções de informação perceptível para tirar conclusões sobre o meio em que vive, afirma Frank Pollick, professor de psicologia da Universidade de Glasgow.

    O próprio Pollick está desenvolvendo um experimento sobre atratividade relacionada à dança.

    "Quando você vê alguém dançando, ou quando escuta a voz de uma pessoa, você faz um série de julgamentos detalhados sobre as características desse indivíduo", diz Pollick. "Normalmente essas conclusões vão muito além da informação que realmente está ali, mas, mesmo assim, elas existem por algum motivo."

    Neave e seus colegas de laboratório afirmam que agora pretendem estudar a conexão –se ela existir– entre personalidade, saúde, idade e status hormonal em mulheres e a atratividade da dança.

    Outras questões estão relacionadas a como a cultura e a orientação sexual afetam a dança e as percepções de dança.

    Dica prática da pesquisa: "Não há nada de errado em tentar novos passos de dança", diz Neave. Contudo, cuidado para não se embebedar antes de se jogar na pista. Isso "pode ajudar o movimento assimétrico de braços e pernas, mas também, obviamente, pode ser desastroso."

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