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    Mais de 20 cidades no Brasil terão protestos pela ciência neste sábado

    REINALDO JOSÉ LOPES
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    22/04/2017 02h00

    Embora as versões brasileiras da Marcha Pela Ciência tenham abraçado os principais objetivos do movimento internacional, o senso de urgência entre os organizadores do Brasil é maior. Para eles, a própria viabilidade da ciência nacional está ameaçada.

    "A gente tem de mostrar para a população que, no ritmo em que as coisas estão caminhando, o Brasil corre o risco de virar uma republiqueta e voltar séculos no tempo, porque o desenvolvimento de um país é impossível sem ciência e tecnologia", resume o presidente da SBQ (Sociedade Brasileira de Química), Aldo Zarbin, que é professor da Universidade Federal do Paraná e colabora com a organização da marcha em Curitiba.

    "A situação é tão crítica e tão dramática porque a falta de verbas está colocando em jogo o futuro de uma geração inteira de jovens pesquisadores", argumenta o físico Ildeu de Castro Moreira, um dos vice-presidentes da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) e membro da coordenação do evento no Rio.

    Por enquanto, as sociedades científicas conseguiram mobilizar pesquisadores que participarão em 23 cidades de todas as regiões do Brasil, das quais 13 são capitais (sem contar Brasília, que também faz parte da lista) e outras são municípios de porte médio com presença acadêmica significativa, como Itajubá (MG) e São Carlos (SP).

    TESOURAÇO

    Seguindo o lema "Conhecimento Sem Cortes", a versão carioca da marcha realizará um "tesouraço" –manifestação com grandes tesouras de papelão, simbolizando as restrições de verba para pesquisa - em torno do Museu Nacional. O museu é a mais antiga instituição de pesquisa brasileira e completará 200 anos no ano que vem, o que reforça o peso simbólico do ato, diz Moreira.

    Outras atividades estão programadas para a última semana do mês de abril, diz o físico, como um debate na UFRJ sobre os cortes no orçamento nacional para ciência e tecnologia, do qual participarão a presidente da SBPC, Helena Nader, e o presidente da ABC (Academia Brasileira de Ciências), Luiz Davidovich.

    Em São Paulo, os participantes da marcha vão se concentrar no Largo da Batata, em Pinheiros, a partir das 14h, e o plano é atrair a simpatia da população para a causa com atividades lúdicas, explica Flávia Virginio Fonseca, doutoranda em parasitologia do Instituto de Ciências Biomédicas da USP.

    "A gente quer desmistificar a ciência, mostrar como ela pode ser gostosa e o impacto positivo que ela pode ter no cotidiano", diz Flávia. Para isso, estão programadas rodas de debates e tendas que abordarão temas como biotecnologia e matemática. Cientistas de peso, como Helena Nader, o bioantropólogo Walter Neves (um dos principais estudiosos da pré-história brasileira) e o geneticista Carlos Frederico Menck farão discursos breves, com tema livre. "Não queremos uma discussão partidária, mas algo que chame a atenção para as necessidades da ciência aqui no país, como a contratação de pessoal para os institutos de pesquisa estaduais, que estão muito carentes de novos pesquisadores", afirma ela.

    Na capital paranaense, o evento funcionará nos moldes de uma passeata tradicional, com manifestantes se reunindo em frente ao prédio histórico da UFPR a partir das 16h. "A gente espera fazer jus à data e ajudar o Brasil a se redescobrir um pouco", brinca Zarbin.

    O químico reconhece que especialistas de áreas como as ciências exatas têm dificuldade para se mobilizar a respeito de causas políticas, ao contrário do que acontece nas ciências humanas. "O pessoal da nossa área tende a ficar dentro do seu laboratório e demora a reagir. As pessoas vão levando, vão levando, parecem ter uma certa incredulidade diante da tremenda perda de status da ciência brasileira que está acontecendo. É preciso sair dessa letargia."

    Mais informações sobre as marchas estão no site http://bit.ly/2odChBp.

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