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    Adriana Gomes

    Palestras vazias

    DE SÃO PAULO

    25/05/2014 03h15

    Se a vida é realmente um teatro, como afirmava William Shakespeare, viva os cínicos! Fatos recentes me fizeram pensar sobre as razões pelas quais as pessoas saem tão insatisfeitas de palestras e programas de treinamentos. Os comentários que ouço, sempre em pequenos grupos, são de descrédito no que está sendo dito. Leva-se pouco aprendizado para casa.

    Erving Gofman, em seu livro "A Representação do Eu na Vida Cotidiana" (editora Vozes), chama o ator social, que todos somos, de cínico quando ele não crê em sua própria atuação e não se interessa pelo seu próprio público. Quando há desconexão entre o que ele pensa, vive e sente.

    Percebo que os discursos são recheados de clichês e palavras da moda, entre as que não podem faltar "sustentável", "inovador", "transformador", "eficaz", "criativo", "novo" e "liderança". Essa última, então, vem acompanhada de todos os adjetivos que a elevam ao patamar de impraticável, inatingível e irreal. Poderia fazer uma lista enorme de tais palavras que deixam as oratórias bonitas, mas vazias de sentido.

    Uma fala entremeada com essa avalanche de vocabulário "modístico" e desconectada da realidade gera muito mais descrédito do que o efeito esperado por quem está proferindo: o entusiasmo e a motivação da plateia.
    Os discursos de palavras vazias são frequentes. Chego a duvidar de que o palestrante, já profissional nessa arte, ainda tenha alguma conexão emocional com aquela apresentação decorada que saca da prateleira para uma nova "performance".

    As palestras ainda compõem grande parte das ações de capacitação e desenvolvimento profissional, mas reavaliar esse modelo é necessário. Desenvolver e selecionar profissionais que tragam melhores conteúdos e, principalmente, que se deem ao trabalho de se adequar e se alinhar aos objetivos e à realidade da empresa.

    Creio que, para envolver e convencer a audiência, está faltando, convicção, verdade e espontaneidade, um toque de genuíno. O pior é a perda tempo em tais eventos sem que haja retorno, uma vez que um dos bens mais preciosos que temos é o nosso tempo.

    adriana gomes

    Escreveu até junho de 2016

    Mestre em psicologia, coordena o Núcleo de Estudos e Negócios em Desenvolvimento de Pessoas da ESPM.

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