• Colunistas

    Saturday, 04-May-2024 11:06:29 -03
    Aécio Neves

    Queda livre

    22/02/2016 02h00

    O novo rebaixamento da nota de risco do Brasil, apenas seis meses depois de o país perder o selo de bom pagador, não surpreendeu ninguém.

    Ainda que previsível, diante da deterioração crescente da economia e da incapacidade do governo de reagir, esse é um fato que jamais deveria ser banalizado. Mas são tantas as notícias ruins, que corremos o risco de nos acostumarmos com elas.

    O rebaixamento afeta o dia a dia de todos os brasileiros, mesmo que, para muita gente, pareça algo incompreensível. É a vida cotidiana que se torna ainda mais dura. Significa juros mais altos para nossas empresas, redução de investimentos, produtos mais caros, inflação e mais inadimplência, além do desemprego crescente. É também um período de maior dificuldade para o governo brasileiro se financiar e mais impostos no futuro para pagar essa dívida e a necessidade de cortes maiores das despesas.

    O Brasil precisou percorrer uma longa estrada, que se iniciou com FHC e o Plano Real, em 1994, para ganhar o selo de bom pagador. Em menos de uma década, o governo do PT, com suas políticas equivocadas, nos tirou essa conquista.

    É preciso registrar que o total de desempregados no país cresceu 41,5% em um ano e já ultrapassou 9 milhões de brasileiros. A redução nas vendas mostra o consumo das famílias em queda acelerada em todos os segmentos. Com a inflação alta e o crédito apertado, os brasileiros diminuíram a compra de eletrodomésticos, automóveis, roupas, material de construção, alimentos. Na etapa seguinte, o que se corta são os serviços. Quem é pai ou mãe sabe o quanto dói mudar a escola do filho.

    É o Brasil, sem disfarces ou truques de marketing, mostrando a sua cara.

    O rebaixamento não é obra do acaso. A tormenta tem nome, sobrenome e RG. Não veio de fora, como um ataque alienígena, como sempre querem fazer crer para justificar o injustificável. Segundo Lisa Schineller, da agência S&P, "o rebaixamento foi resultado da política doméstica, de ações ou falta de ações domésticas". É, portanto, obra de um governo, de um partido, de um conjunto de ideias rasas e equivocadas que estão destruindo um patrimônio de conquistas que é de todos nós.

    De uma amostra de 30 países que perderam o grau de investimento desde 1980, poucos recuperaram suas posições. A vida entre as nações da segunda divisão vai cobrar um preço alto dos brasileiros. E não há saída fácil.

    Será preciso liderança política, uma equipe competente e compromisso com uma ampla agenda de reformas para superarmos a atual crise, que já é a maior das últimas décadas. Infelizmente faltam a este governo convicção, capacidade e estatura moral para conduzir o país nesta direção.

    aécio neves

    Escreveu até maio de 2017

    É senador pelo PSDB-MG. Foi candidato à Presidência em 2014 e governador de Minas entre 2003 e 2010. É formado em economia pela PUC-MG.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024