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    Alexandra Corvo

    A encruzado desponta

    07/10/2015 03h00

    Lá por maio do ano passado, fiz parte do júri de um concurso internacional em Lisboa e pude degustar alguns vinhos da uva branca encruzado. Apesar de me chamarem a atenção pela mineralidade e ponta ácida vibrante, não me intrigavam mais que tantas outras variedades portuguesas interessantes. Mas, depois, sentindo com atenção, me dei conta: ela é especial, sim.

    Não é comum em Portugal os vinhos serem varietais (feitos com só uma variedade de uva). Geralmente os produtores desse país expressam mais as características do terroir das regiões em vinhos produzidos com cortes de uvas autóctones e, portanto, muito bem adaptadas a cada zona.

    Originária da região do Dão, a encruzado vem despontando (ali e também fora do Dão) em vinhos varietais pela sua expressão intensa. Dá notas de pinho, ervas frescas, muito cítrico e uma acidez brilhante que faz com que os vinhos não apenas sejam deliciosos e vivazes na juventude, como desenvolvam complexidade no envelhecimento.

    Com um tempo em garrafa, o vinho ganha mais cremosidade, uma certa oleosidade que dá volume em boca, sempre apoiado pela acidez que se mantém por vários anos. O nariz desenvolve aromas mais densos de frutos secos e lembra algo de óleo de amêndoas, também sempre com uma nota fresca de pinho no fundo.

    Tentei conversar com alguns enólogos portugueses que trabalham com ela, mas é época de colheita na Europa e a maioria não conseguiu me responder. Julia Kemper me contou, às pressas entre uma prensa em outra, que a encruzado está bem adaptada ao clima fresco do Dão, mas que varia de um terroir a outro.

    Filipa Pato, gênio imparável, fez questão de conversar comigo e, mesmo com a vindima a todo vapor, me contou tudo com mais detalhes. Disse que a encruzado adora o granito fresco do Dão e que os melhores exemplares vêm da zona da Serra (Caramulo e Bussaco) –e que nas regiões um pouco mais quentes, ela já fica melhor com outras uvas que vão garantir a acidez (terrantez, cercial e bical).

    Sua viticultora, Sonia, conhece bem a variedade e nos contou que a encruzado tem uma certa tendência a se oxidar, portanto fermentar em barrica ajuda que ela crie uma capacidade antioxidante própria.

    Tiago Cabaço 2013
    Pinho, manjericão e uma notinha floral. Boa acidez, saboroso, com textura cremosa e final que lembra folhas
    QUANTO R$ 145,30
    ONDE Adega Alentejana; tel: (11) 5044-5760

    Quinta da Falorca 2011
    Resina, pinho, pêssego e geleia de laranja, algo de manteiga. Estilo cheio, com ótima acidez, final cítrico, com textura firme e seca
    QUANTO R$ 115,50
    ONDE World Wine; tel. (11) 3085-3055

    Quinta da Garrida 2013
    Tem aromas cítricos e algo de giz, mineral. Textura seca e firme em boca, uma nota quase salgada
    QUANTO R$ 74,40
    ONDE Portus Cale; tel. (11) 3675-5199

    Duque de Viseu Carvalhais 2014
    Floral e fresco, delicado em boca, sem a acidez tão marcada por ter algo de malvasia fina e bical no corte
    QUANTO R$ 90
    ONDE Zahil; tel. (11) 3071-2900

    alexandra corvo

    Escreveu até setembro de 2016

    Trabalhou por 15 anos como sommelière nos EUA, Europa e Brasil. Hoje é proprietária do Ciclo das Vinhas - Escola do Vinho.

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