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    Alexandra Corvo

    O novo mundo das uvas autóctones

    27/07/2016 02h00

    Não sei se vocês sabem, mas o mundo do vinho tem modinhas e tendências.

    Pra vocês terem uma ideia, nos anos 1990, seguindo os trilhos da enologia supertecnológica criada na universidade de Bordeaux no pós-guerra e desenvolvida por várias universidades do mundo, os vinhos eram superextraídos, encorpados, muito concentrados e alcoólicos. As passagens longas por pequenas barricas de carvalho novo ainda adicionavam notas intensas de tostados, baunilhas, tabaco, chocolate e café.

    Além do mais, todo mundo decidiu plantar as mesmas variedades de uva —que ficaram então conhecidas como "variedades internacionais". Em sua maioria, variedades francesas cabernet sauvignon, syrah, pinot noir, merlot, chardonnay entre algumas outras.

    Era cabernet sauvignon pra tudo que é lado, com sabores achocolatados e mega encorpados. Brancos de chardonnay fermentados em barricas novas a torto e a direito com notas amanteigadas que pareciam pipoca doce.

    E apesar de a qualidade dos vinhos ter crescido de maneira vertiginosa, a verdade é que os vinhos ficaram todos muito parecidos. Um chardonnay da Umbria era igual a um da Borgonha e um cabernet feito no Maipo chileno poderia ter as características de um Bordeaux clássico. Legal, mas faltava identidade.

    Esse tipo de vinho hoje já não predomina sozinho. Ele existe, é uma opção pra quem gosta do estilo, mas a boa nova é que surgem muitos outros estilos. E assistimos a uma busca por identidade que se satisfaz com o ressurgimento da produção de variedades autóctones.

    Essas variedades, encontradas em lugares muito específicos, são todo um mundo a ser explorado. E pra nossa sorte —nós que gostamos de ter opções— produtores de várias regiões têm se empenhado em pesquisar variedades que ficaram pra trás, esquecidas e praticamente extintas.

    Variedades que desapareceram seja por que eram difíceis de produzir, porque não rendiam muito volume ou simplesmente eram tão desconhecidas que era praticamente impossível apresentá-las ao mercado.

    A Itália, sem dúvida, lidera essa nova cruzada, mas não está sozinha. Todos os países europeus têm recuado um pouco na evolução qualitativa x quantitativa. Hoje, prestam mais atenção à toda riqueza de sabores que essas variedades podem oferecer e menos com um retorno monetário imediato. Não basta o vinho ser bom, gostoso, bem feito. Uma boa história de queda e ascensão por trás de cada taça dá mais prazer a cada gole.

    Duas Castas (Roupeiro e Alvarinho) Esporão 2015
    Muito aromático com notas de pêssego, abacaxi e fruta madura. A boca é bem fresca e cremosa, é intenso com uma picadinha alcoólica saborosa no final
    REGIÃO Portugal
    QUANDO R$ 95
    ONDE Qualimport; tel. 11 5181-4492

    Lemberger Alemanha Herzog von Wurttemberg 2011
    Frutadinho, cheiro de chiclete, tutti frutti, depois mostra umas especiarias como cardamomo e páprica. Acidinho, sequinho, magrela, bom pra beliscar comidinhas.
    REGIÃO Alemanha
    QUANDO R$ 130
    ONDE Vin D`Ame; tel. 11 2384-6946

    Rapsani Grand Reserve 2009
    UVA Xinomávaro, Stavrotó e Krassáto
    Perfumadão, com aromas de baunilha, caramelo, uma nota de cinzas, meio tostado, balsâmico. Muito cheio em boca, taninos bem fundidos e final achocolatado
    REGIÃO Grécia
    QUANTO R$ 132
    ONDE Free Way; freewayecommerce.com.br

    Puglia Cantine Due Palme 2013
    Aroma que lembra maçã, pera e óleo aromático. Na boca é bem cremoso, com uma notinha de mel e final que lembra peras frescas
    UVA Falanghina
    REGIÃO Itália
    QUANTO R$ 96
    ONDE La Pastina; tel. 0800 721 8881

    alexandra corvo

    Escreveu até setembro de 2016

    Trabalhou por 15 anos como sommelière nos EUA, Europa e Brasil. Hoje é proprietária do Ciclo das Vinhas - Escola do Vinho.

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