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    Alexandra Corvo

    O vinho da Sicília pode ser levado a sério

    10/08/2016 20h02

    Rafael Mosna/Folhapress
    FICUZZA, ITÁLIA, AGO-2011: Vinícola Cusumano, em Ficuzza, na Sicília. (Foto: Rafael Mosna/Folhapress, TURISMO) ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Vista da vinícola Cusumano, em Ficuzza, na Sicília

    É impressionante pensar que uma região antiga como a Sicília, herdeira direta da viticultura e enologia da Grécia antiga, só passou a se levar (e ser levada) a sério faz poucas décadas.

    Após séculos de produção consistente (mas muito volumosa), só podemos falar da produção do vinho siciliano como o conhecemos hoje, dos anos 1990 pra cá. Imaginem: só em 1946 a Itália foi unificada. Até então, tudo era latifúndio na Sicília.

    Quando as terras foram divididas, pequenos produtores que receberam essas terras não sabiam muito o que fazer, a não ser vender suas uvas para casas produtoras de Marsala —até então o vinho mais importante da ilha— ou pra grandes cooperativas (as cantinas).

    É assim que nos anos 1960 vemos explodir o movimento das cantinas e o plantio massivo da variedade Catarrato, até hoje a mais plantada da Sicília. No entanto, a administração dessas estruturas era feita por políticos preocupados com volume e não por produtores que se importavam com qualidade.

    Não tardou para que esse sistema colapsasse, sem ter mercado para absorver tais volumes. Apenas sobreviveram cooperativas que se adiantaram na percepção e passaram a engarrafar brancos e tintos com marca própria. O "Rosso del Conte" da Tasca d'Almerita e "Duca Enrico" da Corvo Duca di Salparuta são ícones dessa era.

    As terras, baratas no início da década de 1990, foram sendo vendidas para todo tipo de interessado: produtores locais, italianos com grana e conhecimento vindo de outras partes, e estrangeiros de terras tão longínquas quanto a Austrália.

    Então assistimos à chegada de muitas variedades internacionais ao mesmo tempo que havia um cuidado maior com as variedades locais. Catarrato, a mais famosa e mais plantada, se bem trabalhada nas vinhas, pode dar um branco com notas de mel e cera de abelha. Inzolia é a que tem mostrado mais potencial, muito frutada e aromática. Carricante combina bem em corte e Grecânico é a mais ácida e pontiaguda de todas.

    Em relação às tintas, Nero d`Avola é, sem dúvida, a variedade mais emblemática. Sobre o monte Etna, a região mais dinâmica da atualidade, Nerello Cappuccio e Nerello Mascalese são as mais importantes na composição dos tintos do vulcão. O resultado do calor que emana dessas terras negras, mas de altitude, são vinhos que aliam frescor, perfume e mineralidade, delicadeza e força, como seria de se esperar de vinhas que crescem nas costas de um vulcão.

    Donnafugata Sedàra Rosso IGP 2011
    Notas delicadas de morango não maduro, algo de terra e vegetal. Na boca é sequinho e tânico, pede um embutido com boa gordura
    QUANTO R$ 160
    ONDE World Wine; tel. (11) 3085-3055

    Planeta Etna Rosso 2014
    Muito perfumado, frutado, com notas defumadas e florais, parece um incenso de lavanda. Na boca é delicado com taninos finos e boa acidez
    QUANTO R$ 205
    ONDE Interfood; tel. (11) 2602-7266

    Mandrarossa Costadune Nero D`Avola 2014
    Meio achocolatado no nariz, perfumado com algo floral, cardamomo e café. Tem um amarguinho elegante em boca, uma nota picante, corpo firme e um final que lembra vermute
    QUANTO R$ 63
    ONDE La Pastina; tel. (11) 0800-721-8881

    Regaleali Le Rose Tasca d'Almerita 2013
    Nariz menos frutado, mais vegetal, com notas de legumes e tostados. Na boca é frutado e cremoso, cheio, mas elegante. Excelente pra vários tipos de comida
    QUANTO R$ 130
    ONDE Mistral; tel. (11) 3372-3400

    alexandra corvo

    Escreveu até setembro de 2016

    Trabalhou por 15 anos como sommelière nos EUA, Europa e Brasil. Hoje é proprietária do Ciclo das Vinhas - Escola do Vinho.

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