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    Alexandra Forbes

    Um ranking envolto em controvérsia

    27/05/2015 02h00

    É forte, como sempre, o burburinho nestes dias precedendo o anúncio do ranking anual dos 50 melhores restaurantes do mundo segundo a revista inglesa "Restaurant". A cerimônia de premiação acontecerá na segunda-feira (1°) em Londres, e os organizadores e patrocinadores vem alimentando esse falatório com posts nas mídias sociais.

    O ranking, sempre bastante criticado e polêmico, continua tendo um poder enorme. Faz e destrói restaurantes. Por isso tantos chefs importantes viajam a Londres para a noite do prêmio –com direito a cenografia de Grammys e red carpet– pagando dos próprios bolsos: temem ofender os chefes do júri.

    Até hoje a maioria das críticas ao 50 Best –considerado injusto por muita gente– atinha-se a conversas privadas. Poucos chefs –entre eles o argentino Francis Mallmann– atreviam-se a dizer o que achavam. Em carta ao "The New York Times", escreveu: "Observo sentimentos contrários em tantos de meus colegas que estão tão preocupados com os prêmios que passam o ano fazendo lobby perante o eleitorado, pulando de conferência em conferência, desperdiçando tempo valioso e distanciando-se dos reais valores que fazem um restaurante".

    Neste ano um ataque mais forte veio a tona. A blogueira Marie Eatsider, a documentarista Hind Meddeb e a RP Zoé Reyners, lançaram o Occupy 50 Best, um site contendo um abaixo-assinado pedindo que os patrocinadores retirem seu apoio ao prêmio. "Um ranking que desavergonhadamente mistura parcialidade (os países parceiros, entre eles Peru e Cingapura, são particularmente sobrerepresentados), auto-promoção (alguns chefs ranqueados também são membros do júri) e machismo (na lista de 2014 só havia uma mulher entre os 50)", diz.

    Entre as assinaturas colhidas estão as de alguns dos maiores chefs da França, como os pluriestrelados Thierry Marx, Joel Robuchon e Georges Blanc. Os franceses, aliás, sempre foram os mais ferozes críticos dos critérios do ranking. Em 2014, os organizadores deram o prêmio Lifetime Achievement a Alain Ducasse mas o chef, que estava em Londres, nem dignou-se a aparecer na festa. Guy Savoy e Alain Passard são outros dois gigantes que fazem oposição.

    Neste ano, Alex Atala e o peruano Gaston Acúrio não irão à cerimônia –não por protesto mas porque já não veem mais sua presença como imprescindível. No entanto, a maioria da elite da gastronomia mundial estará lá, sorrindo e posando para os fotógrafos como se nada fosse, esperando ansiosamente a revelação da lista na cerimônia.

    A polêmica do Occupy 50 Best certamente será assunto entre os presentes, e tanto melhor. Embora discorde de muito do que diz a petição, por outro lado acho que já era hora de se questionar publicamente os critérios usados e a independência dos jurados. Os organizadores do prêmio manterão uma postura "falem bem ou falem mal, mas falem de mim", mas, no fundo, sentirão o golpe.

    Se a imagem do ranking sairá arranhada desse embate? Depende de quantos chefs terão coragem de assinar a petição e assumirem ser da oposição. Há que ter colhões para comprar essa briga...

    alexandra forbes

    É jornalista gastronômica, 'foodtrotter' e autora de 'Jantares de Mesa e Cama'. Escreve aos domingos, a cada duas semanas.

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