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    Alexandra Forbes

    Até a Pepsi quer ser artesanal

    02/03/2016 02h00

    Quando vai aos Estados Unidos, o chef Ivan Ralston volta com quinino na mala –casca pulverizada de uma árvore peruana. Com isso, em seu restaurante Tuju, faz água tônica caseira (o que explica porque o gim tônica dele é tão acima da média).

    O capricho custa caro. Mas, no mundo da alta coquetelaria –até no Brasil, com o dólar nas alturas–, fazer sodas caseiras como essa água tônica tornou-se requisito indispensável. Spencer Amereno Jr., dono do Frank, bar que os entendidos consideram o melhor de São Paulo, não abre mão de fazer a sua, usada em seu famoso gim tônica.

    A tônica é a mais conhecida dentre uma miríade de sodas, que são águas acrescidas de gás carbônico, algum sabor e, geralmente, açúcar. Coca e Pepsi, por exemplo. Ginger ale também, que Kennedy Nascimento, barman pluriestrelado, faz artesanalmente no Z Carniceria, um de vários bares e restaurantes paulistanos dos quais cuida dos drinques.

    Nos Estados Unidos, onde as artesanais viraram moda já há alguns anos, as opções são infinitas, de grapefruit a melão com framboesa. Muita gente compra maquinetas on-line para fazê-las em casa. Contêm muito menos açúcar do que as industriais e zero químicos –portanto, caíram no gosto da geração saúde.

    A indústria de refrigerantes, para limpar a má imagem das colas populares, está tentando pegar o bonde, lançando sodas sem tantos corantes e sabores sintéticos. A Pepsi investiu até em um bar-conceito batizado de "Kola Lounge", prestes a ser inaugurado em Nova York, onde haverá um "curador de coquetéis residente". A marca descreve o lugar como um "hub para consumidores compartilharem experiências sociais e de imersão, ancoradas na exploração do artesanato e dos sabores de nossas colas".

    Convence? Não, faz rir. Mas se as gigantes seguirem a onda das sodas naturais –que no Brasil restringe-se a barmen de elite e a um ou outro restaurante sofisticado–, sairemos ganhando. Cada novo adepto de sodas sem químicos ajuda a cimentar o declínio dos refrigerantes.

    alexandra forbes

    É jornalista gastronômica, 'foodtrotter' e autora de 'Jantares de Mesa e Cama'. Escreve aos domingos, a cada duas semanas.

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