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    Alexandra Forbes

    Visitar hortas virou passeio

    13/11/2016 02h00

    Karime Xavier/Folhapress

    Estou em Campos de Jordão, no Botanique, lindo hotel de campo cujo restaurante, o Mina, enfatiza a ligação com a terra do seu entorno e os alimentos orgânicos. Vim participar do primeiro fim de semana "Do Campo à Mesa", com direito a visita à horta (que tem 350 canteiros!) guiada pelo chef Gabriel Broide (que já trabalhou com Laurent Suadeau, Alex Atala e Daniel Boulud).

    Vou provar um menu em que ele usará os ingredientes que vi ainda na terra, durante o tour. "A horta sempre esteve aqui, desde que cheguei, quatro anos atrás", diz. "Mas só agora começamos a oferecer essa experiência de mostrá-la aos hóspedes."

    Broide não foi o único a sacar que as pessoas que se interessam por comida saudável e orgânica querem cada ir mais fundo do que um mero jantar em restaurante.

    Leo Botto, que foi por alguns anos chef dos restaurantes do grupo Chez, saiu do emprego para repensar a vida e "se reconectar com a natureza". Sábado que vem, vai assar cordeiros inteiros sobre brasas e servir arrozes "caldosos" e diversos tipos de mandioca para cerca de 35 pessoas na fazenda Coruputuba, a duas horas de São Paulo.

    O banquete ao ar-livre será a recompensa para o grupo, que passará uma hora passeando pela horta e ouvindo as explicações de Botto sobre sementes, verduras, matinhos comestíveis, reflorestamento e muito mais.

    No sábado seguinte, dia 26, será a vez de Claire Anquier, cunhada do chef Olivier Anquier, cozinhar em uma horta. E em pleno centro de São Paulo! A francesa, formada em administração mas apaixonada por jardinagem, receberá um grupo no chamado Jardim do Rock, uma horta criada por ela na laje da icônica Galeria do Rock.

    "Eu só como orgânicos, e quando me mudei para São Paulo, dois anos atrás, vi que são caros e a oferta, pouca. Por isso tomei essa iniciativa", diz. Ela, cujo marido Pierre também é chef, servirá para os visitantes um brunch incluindo iogurte com flores de capuchinha da própria horta, e usará ervas para fazer um pesto e para temperar a quiche de abóbora.

    Passeios como esses têm seu custo. De R$ 180 para o brunch no centro com passeio e palestra dada por um engenheiro agrônomo a uma pequena fortuna pelo fim de semana combinando estadia cinco estrelas, horta e gastronomia em Campos do Jordão.

    Mas tem muita horta por aí que não só é aberta para visitação sem cobrar entrada como têm verduras e legumes que podem ser colhidos à vontade e levados para casa gratuitamente. O melhor exemplo é a encantadora Horta das Corujas, na Vila Beatriz, frequentada pela chef Bel Coelho, do Clandestino, que mora ali perto. "Venho para passear mas também colho capuchinha, vinagreira, tomatinhos. e aí uso no restaurante", conta.

    Como poucos sabem que a horta existe, nunca falta verdura. Tem trilhas, jabuticabeira, meliponário de abelhas jataí e até parquinho para as crianças. Por um lado, dá gosto compartilhar iniciativas louváveis e tão boas para a cidade. Por outro, bate uma vontade de não alardear a existência desses oásis verdejantes para que sigam quase sem gente.

    alexandra forbes

    É jornalista gastronômica, 'foodtrotter' e autora de 'Jantares de Mesa e Cama'. Escreve aos domingos, a cada duas semanas.

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