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    Alexandra Forbes

    Time do Noma cobrará US$ 600 por menu-degustação em plena mata

    08/01/2017 02h00

    Laerke Posselt/'The New York Times'
    O chef René Redzepi, do Noma
    O chef René Redzepi, do Noma

    Você pagaria R$ 4.800 por um jantar para dois, com bebidas? Nunca? Nem mesmo se esse jantar fosse preparado no meio da mata, no México, pelo time do Noma, de Copenhague, considerado por especialistas um dos melhores restaurantes do mundo?

    Pois muita gente pulou na oportunidade de reservar uma mesa no pop-up mexicano do Noma, que funcionará de 12 de abril a 28 de maio em plena mata, ao sul de Cancún. O preço do menu-degustação: US$ 600 por pessoa, mais 16% de taxas e 9% de serviço. E o site ainda avisa: "estaremos parcialmente protegidos da chuva (mas) os elementos são imprevisíveis e farão parte da experiência".

    Mesmo sendo uma aventura cara e sujeita a intempéries, os lugares foram postos à venda em 6 de dezembro e em três horas e meia esgotaram-se.

    Muitos criticarão Redzepi e seu pop-up, alvos fáceis. Eis um forasteiro petulante o bastante para servir comida mexicana de autor por um preço que mexicano nenhum teve a audácia de cobrar, equivalente à renda mensal de famílias que vivem em torno da cabana gourmet que ele montará.

    Entretanto, as críticas serão suplantadas por uma enxurrada de posts maravilhados nas mídias sociais e reportagens elogiosas. Foi o que aconteceu ambas as vezes que Redzepi fez pop-ups remotos, no Japão e na Austrália (2016).

    Experiências gastronômicas extravagantes são como coleções de alta-costura: servem de vitrine. Assim como vestidos de US$ 50 mil são comprados por quase ninguém, mas são vistos e admirados e compartilhados na rede por milhões de pessoas, os menus servidos na mata impactarão muito mais gente além dos fãs que compraram passe para o pop-up.

    O maior ganhador nessa história, além do próprio Redzepi, que segue galvanizando sua reputação de inovador e desbravador de culturas, é o México. O pop-up fará pela imagem gastronômica do país o que milhões de dólares em publicidade jamais conseguiriam fazer.

    Outros chefs de alto douraram a imagem de lugares onde montaram pop-ups, como o inglês Heston Blumenthal, que "transportou" seu premiadíssimo The Fat Duck para a Austrália em 2016.

    Goste-se ou não do formato do pop-up a preço de ouro, replicar o formato no Brasil —com sua despensa natural inigualável— faria um bem danado

    alexandra forbes

    É jornalista gastronômica, 'foodtrotter' e autora de 'Jantares de Mesa e Cama'. Escreve aos domingos, a cada duas semanas.

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