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    Alexandre Schwartsman

    No, we can't!

    09/09/2015 02h00

    Na semana passada, procurei mostrar que a recessão iniciada em meados do ano passado resulta da política econômica que vigorou com maior intensidade de 2011 a 2014.

    As consequências de expansão desmesurada do gasto, descaso com a inflação, controles de preços e intervenções no domínio econômico foram aceleração inflacionária, deficit externos crescentes, desarranjo de setores importantes e aumento considerável da dívida pública, sem, é bom deixar claro, conseguir acelerar o crescimento. Além disso, há razões para crer que, entre as heranças da experiência desastrada do período, se encontra também a impossibilidade de políticas anticíclicas.

    O nome, algo pomposo, representa medidas que poderiam atenuar, ou abreviar, a recessão. Em particular, uma queda de atividade, como a observada neste ano, poderia ser combatida com aumento do gasto e redução da taxa de juros, conforme defendido por alguns.

    Não se trata de nada incomum. Outros países o fizeram, por exemplo, em resposta à crise de 2008, e mesmo o Brasil optou por esse caminho naquele momento. Resta, porém, saber por que foi possível fazê-lo à época, mas não agora.

    A resposta é óbvia, mas, como parece haver quem ainda não tenha entendido a natureza do problema, o melhor é explicitá-la.

    Tome-se o caso do Brasil em 2008-2009. O país vinha de alguns anos de superavit primários superiores a 3% do PIB, que trouxeram a dívida pública de patamares próximos a 70% do PIB entre 2003-2005 para 55% do PIB às vésperas da crise.

    A inflação, que havia superado em média por 1,4 ponto percentual a meta no período 2003-2005, ficou ao redor daquela entre 2006 e 2008. Em resposta a esse desempenho, as expectativas de inflação quando o BC começou o processo de redução de juros em 2009 estavam apenas levemente acima de 4,5%, revelando uma credibilidade até então inédita quanto ao compromisso da instituição com o regime.

    Por fim, o balanço de pagamentos registrara superavit de US$ 45 bilhões entre 2003 e 2007 (média equivalente a 1,1% do PIB por ano), enquanto o BC acumulara perto de US$ 190 bilhões em reservas adicionais.

    Posto de outra forma, a sabedoria não foi reagir à recessão com o afrouxamento das políticas fiscal e monetária (assim como o uso de parte das reservas), mas sim ter preparado o terreno para isso, reduzindo a dívida, controlando a inflação, acumulando superavit externos e reservas.

    Agora, com inflação na casa de 9,5% (7,7% caso desconsideremos as tarifas públicas), não há espaço para reduzir a taxa de juros sem criar um problema mais sério à frente.

    Já o crescimento da dívida pública atingiu mais de 9% do PIB nos últimos 12 meses, sugerindo que sua dinâmica consegue ser pior do que a observada mesmo em economias com dívidas maiores.

    Isso fica transparente na evolução do prêmio de risco associado ao Brasil, que foi a 3,7% ao ano, contribuindo para aprofundar a recessão.

    Nesse contexto, só alguém sem a menor noção de funcionamento da economia e da história recente do país poderia sugerir aumento do endividamento como a solução para nossos males. Se isso bastasse, não estaríamos na situação complicada em que nos encontramos. Há risco que até o governo tenha sentido o tamanho da encrenca, mas certamente não os keynesianos de quermesse.

    alexandre schwartsman

    Ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC, é
    doutor em economia pela Universidade da Califórnia.
    Escreve às quartas, semanalmente.

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