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    Alexandre Schwartsman

    Apesar da queda recente, desemprego neste ano deve superar o de 2016

    27/09/2017 02h00

    Uarlen Valério/O Tempo/Folhapress
    Feirão com 250 vagas de emprego atrai cerca de 4 mil pessoas no centro de Belo Horizonte (MG), nesta sexta-feira
    Feirão com 250 vagas de emprego atraiu cerca de 4.000 pessoas no centro de Belo Horizonte (MG)

    Por força do desempenho acima do esperado no segundo trimestre, as projeções de crescimento do PIB, tanto para 2017 como para 2018, vêm sendo revistas: de 0,4% para 0,7% e de 2,0% para 2,3% respectivamente, processo que deve continuar, embora a ritmo mais lento, nas próximas semanas.

    É uma boa notícia, sem dúvida, mas resta traduzir esse desempenho em algo que pareça menos distante da experiência das pessoas do que uma grandeza abstrata como o PIB. Em particular, o que significa isto em termos do desemprego, possivelmente a faceta mais nítida da recessão iniciada em meados de 2014?

    A este respeito também se observa uma melhora. A taxa de desemprego, que atingiu 13,7% no primeiro trimestre deste ano (14,2 milhões de desempregados), recuou para 12,8% nos três meses encerrados em julho (13,3 milhões de pessoas).

    É verdade que parte disto se deve puramente à sazonalidade, já que tipicamente o desemprego sobe no começo do ano para atingir seu valor mais elevado em março/abril e aí recua até dezembro. "Limpando", porém, o dado das flutuações sazonais estimamos que a taxa de desemprego tenha caído do pico de 13,1% em fevereiro para 12,6% em julho.

    Isso dito, o que esperar daqui para frente, à luz de um crescimento mais rápido?

    Para responder esta pergunta estimamos a relação entre a taxa de crescimento e a variação do desemprego no Brasil (a "lei do Okun", no jargão da profissão), ou seja, como se comporta a taxa de desemprego para diferentes ritmos de expansão do PIB. No caso, comparamos a evolução do desemprego em um dado trimestre sobre o mesmo trimestre do ano anterior em resposta à variação do PIB, também calculada desta forma.

    Nossos resultados foram surpreendentemente robustos, considerando a qualidade dos dados, especialmente no que se refere às estatísticas de desemprego antes de 2012. Para o período mais recente (do segundo trimestre de 2008 ao segundo trimestre de 2017), em que mais da metade da amostra se concentra em dados de melhor qualidade, obtivemos os seguintes resultados.

    Em primeiro lugar, a taxa de desemprego só cai (sempre na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior) quando a variação do PIB ultrapassa 2,2% (isto, a propósito, se tomado ao pé da letra, sugeriria que nossa capacidade de crescimento potencial seria ao redor desse valor). Em particular, quando o PIB fica estagnado, a taxa de desemprego aumenta em torno de 1%.

    Em segundo lugar, cada ponto percentual de crescimento do PIB que supere o patamar de 2,2% implica redução da taxa de desemprego entre 0,4% e 0,5%.

    Tais resultados sugerem que o desemprego em 2017 ainda será maior que o do ano passado, apesar da queda recente, e que somente em 2018 devemos observar queda, embora modesta.

    Por outro lado, a persistência de taxas elevadas de desemprego –acoplada à promessa de ajuste fiscal– deve manter a inflação baixa, como sugerido pelas projeções do BC, recentemente divulgadas em seu Relatório Trimestral de Inflação.

    Assim, taxas de juros devem também cair para menos de 7% ao ano e lá permanecer durante muito tempo, sobretudo se o país avançar nas reformas fiscais.

    Só falta mesmo explicar por que o impedimento da presidente teria como objetivo manter os juros altos, mas –vamos falar a verdade– não sou eu quem deve essa explicação.

    alexandre schwartsman

    Ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC, é
    doutor em economia pela Universidade da Califórnia.
    Escreve às quartas, semanalmente.

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