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    Alexandre Vidal Porto

    Você viu um homossexual por aí?

    13/04/2013 03h00

    Ao longo dos últimos 40 anos, no mundo ocidental, a luta pela igualdade jurídica dos homossexuais obteve conquistas notáveis. De tema proscrito, passou à vanguarda do debate sobre direitos humanos. Cuba, que nos anos 60 mantinha campos de "reeducação" para gays, promove agora políticas de inclusão.

    Nesta última semana, foi a vez do Uruguai, que aprovou o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo. Ontem, a França também deu um passo importante nessa direção com a aprovação pelo Senado de um projeto que deve entrar em vigor até o meio do ano.

    No caso do Brasil houve avanços, mas o que se oferece aos gays em termos de proteção e respeito social é pouco em comparação ao que fazem países culturalmente próximos, como Argentina ou Portugal.

    Parte do Congresso brasileiro busca minar a consolidação de direitos das minorias sexuais com argumentos condenatórios, toscos e obscurantistas, de cunho radical religioso.

    Ajuda a compor o retrato do homossexual no imaginário popular a repetição incansável de personagens gays estereotipados em programas de televisão. No final, a imagem que fica é que os gays ou são patéticos, ou amaldiçoados.

    O fato de que um discurso desqualificador da homossexualidade possa ser explorado politicamente ou como fonte de humor é lamentável. Mas faz parte de nossas mazelas. Não é por acidente que o Brasil ocupa o 84º lugar no ranking de desenvolvimento humano da ONU, com índice inferior à média da América Latina e do Caribe.

    Toda superação de preconceitos exige ampliação de conhecimentos. No caso específico, os homossexuais brasileiros devem assumir a liderança desse processo educativo. A exemplo do que ocorreu em outros países, cabe a eles mostrar à sociedade quem realmente são.

    O ato mais político que um homossexual pode realizar é assumir-se como tal. Engajar-se pessoalmente na luta pela mudança de percepção. Dar cara, nome e profissão à homossexualidade.

    Chamar a atenção para o fato de que o gay ridicularizado pelo apresentador de televisão ou atacado na rua pode ser o filho que você ama, o irmão que você admira, o seu melhor amigo de infância ou o médico que salvou a sua vida.

    Cada gay que sai do armário traz amigos e parentes para a sua luta. O apoio público de pessoas influentes e admiradas, seja um empresário de peso, um político respeitado ou um artista de renome, dá segurança e respaldo a um ato radical, mas necessário, de afirmação pessoal, que contribui para uma sociedade mais democrática e inclusiva.

    Foi essa a lição que Daniela Mercury deu ao Brasil na semana passada. Que não é preciso ser triste, irresponsável e fracassado para ser gay, que não há nada de feio ou indigno na expressão de seu amor.
    E que a despeito do que diga o pastor ou o programa humorístico, a homossexualidade não é ridícula e nada tem a ver com maldição.

    Daniela fez a sua parte. Deixou claro que o Brasil já gosta de homossexuais. Só precisa saber quem eles são. Cabe a nós apresentá-los.

    alexandre vidal porto

    Escreveu até outubro de 2016

    Escritor e diplomata, mestre em direito (Harvard). Serviu na missão na ONU e no Chile, EUA, México e Japão. É autor de "Sergio Y. vai à América" (Cia das Letras).

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