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    Alexandre Vidal Porto

    Valei-nos, são Nelson Mandela!

    18/10/2014 04h28

    Assim que for eleito, o próximo presidente do Brasil deveria viajar a Qunu. Não é difícil chegar lá, nem fica muito longe. É logo do outro lado do Atlântico, na África do Sul.

    Em Qunu, é coisa rápida: é só fazer uma visitinha ao túmulo do Nelson Mandela, que fica por lá, e buscar inspiração para governar o nosso país.

    Não há melhor exemplo para o próximo presidente que Mandela. É nele que o eleito deveria se inspirar.

    Mandela cresceu em um país marcado pela injustiça. Foi vítima da brutalidade imposta pelo apartheid. Sofreu discriminação. Desafiou o regime e foi perseguido. Ficou 27 anos na prisão.

    Com a derrocada do regime do apartheid, tornou-se o primeiro presidente sul-africano democraticamente eleito.

    Seu grande desafio era unificar um país fragmentado e ressentido. Durante seu governo, todos os seus compatriotas –negros, brancos, indianos– teriam de partilhar a mesma cidadania, em pé de igualdade, para, juntos, seguir adiante como nação.

    Mandela liderou um processo de reconciliação inclusivo, que contemplou todos os segmentos sociais e produtivos de seu país em torno de uma única identidade nacional. É o que um bom líder tem de fazer.

    Como a África do Sul, o Brasil tem uma história de desigualdade social, racial e econômica. Tem muita injustiça no nosso país.

    Eliminá-la é o desafio comum dos cearenses, dos paulistas e dos acrianos. Todos devem estar engajados nesse projeto, e aquele que for governar o Brasil tem de nos liderar nessa luta.

    No entanto, na campanha eleitoral assiste-se a um discurso divisionista, que parece querer realçar antagonismos. Ou se é bandido ou se é mocinho.

    Esse entendimento dicotômico da vida, que a gente vê traduzido na campanha eleitoral, é muito básico para governar um país tão complexo. É ingênuo e antiquado. Cheira à revolução cubana. O tempo disso já passou.

    A sociedade brasileira é tensionada demais para que o divisionismo e o ressentimento sejam exaltados pelos candidatos.

    Explorar as diferenças eleitoralmente pode funcionar em pesquisa, mas é irresponsável e deletério para o desenvolvimento do país.

    O Brasil tem-se tornado mais justo. O processo de avanço social não tem mais volta.

    Criar cizânia entre compatriotas é contra o interesse nacional. Queremos um país mais igualitário e não não nos fará bem uma sociedade antagonizada, rancorosa, partida entre nortistas e sulistas, entre brancos e índios. Temos de funcionar como um só país.

    Um Brasil coeso andará melhor e chegará mais longe. As fraturas sociais têm de ser cuidadas por todos, com a ajuda de boas leis e sob a orientação de bons governantes.

    O eleito no próximo dia 26 será o presidente de todos os brasileiros. Não pode tratar nenhum cidadão como inimigo.

    Quem na campanha política procura dividir e antagonizar age contra o espírito de Nelson Mandela e de todo grande estadista. Não sabe governar e não merece ser presidente do Brasil.

    alexandre vidal porto

    Escreveu até outubro de 2016

    Escritor e diplomata, mestre em direito (Harvard). Serviu na missão na ONU e no Chile, EUA, México e Japão. É autor de "Sergio Y. vai à América" (Cia das Letras).

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