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    Alexandre Vidal Porto

    Flip revelou um Mário fora do armário

    ALEXANDRE VIDAL PORTO
    COLUNISTA DA FOLHA

    06/07/2015 02h05

    Tambores de Candomblé e Jesus de Nazaré: está tudo entrelaçado. É o que disse Mautner a sua plateia em Paraty, na Flip deste ano. Ele tem razão.

    O Universo em Desencanto tromba com índios Pataxós. Uma mulher de meia-idade canta Beatles, desafinada, a plenos pulmões, numa esquina no caminho para a Tenda dos Autores. Cada um é cada um.

    Mas uns são mais uns que outros. Teve festa em que todo mundo entrava e teve festa barrando na entrada. De alguma maneira, todo mundo acabava dançando. Tudo sob uma chuva que ia e voltava.

    Fui a um jantar que virou roda de samba e a outro que acabou em jogo de mímica embalado por um poeta que poderia ser cantor. Contei seis autores da minha editora, felizes, marcando o ritmo com os pés.

    Telefone sem fio total. Liz Calder virou Luiz Caldas, que se transformou em Sílvio Caldas, metamorforseou-se em Caldas Aulete, que, quem diria, acabou Arlete Salles.

    A Flip ainda acaba cheia de atores. E a Tenda dos Autores virará teatro.

    Conversinhas, intrigas, fofocas e flertes, mas ouvi dizer que, nestes cinco dias, fora da literatura, não rola muito sexo, porque, na Flip, o tempo é valioso demais para ser gasto com atividades tão prosaicas.

    Cheirinho do amor e neurônios saltitantes foram temas. Fala-se de tudo nessa Flip: tradução, edição, microcontos, autopromoção (muita) e do que se vai fazer -e de quem se vai comer- depois que a festa acabar.

    Durante esses cinco dias, entre palco e plateia, gentes e notícias, descobrimos que não estamos sós. Olhamos pro mar e fazemos nossa parte rumo a um lugar melhor. O Brasil visto da Flip faz mais sentido.

    Do meu setor favorito na plateia, tinha a impressão de que os autores se acomodavam na carnuda boca do grande Mário do cenário.

    Que Mário? O que descobriu que é melhor fora do armário.

    PS: Nós ossos que aqui -em Paraty- estamos esperamos pelos vossos. Ah! Na livraria, a mais vendida é uma portuguesa cuja boca nem é tão carnuda quanto a de Mário...

    alexandre vidal porto

    Escreveu até outubro de 2016

    Escritor e diplomata, mestre em direito (Harvard). Serviu na missão na ONU e no Chile, EUA, México e Japão. É autor de "Sergio Y. vai à América" (Cia das Letras).

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