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    Alvaro Costa e Silva

    O tronco do samba

    10/07/2015 02h00

    RIO DE JANEIRO - A última Flip provou que a música brasileira ainda dá polêmica –e não estou falando de diversidade cultural nem de breganejo universitário. Polêmica antiga, mas polêmica digna do nome. Alguns amigos se espantaram que, na mesa que opôs Hermínio Bello de Carvalho e José Ramos Tinhorão, um dos temas mais discutidos tenha sido a bossa nova, gênero que, se considerarmos 1958 como ano da sua "invenção", já é quase sexagenário.

    Pois as considerações contrárias de Tinhorão só mostraram que a bossa nova está forte e sacudida. Apesar de notável pesquisador, ele repetiu seu eterno samba de uma nota só, afirmando que Tom Jobim não fazia música brasileira. Hermínio não teve outro jeito: educadamente, rebateu o argumento estapafúrdio.

    Mesmo com a presença de elementos jazzísticos, a bossa nova –e isto já explicou Ruy Castro, o "cátedra" no assunto– é só um dos 30 ou mais subgêneros do samba, tronco vital cujo formato que até hoje perdura nasceu entre os bambas do Estácio no fim da década de 1920.

    Anote aí alguns temas musicais que dariam discussão bem mais proveitosa: samba batido, samba corrido, samba raiado, samba de roça ou rural, samba de roda, samba de terreiro ou de quadra, samba de partido alto, samba-coco, samba-choro. E que dizer do samba sincopado, composto por Geraldo Pereira e Wilson Baptista para as vozes de Cyro Monteiro e Roberto Silva? Do samba-canção, que dominava o cenário nas boates de Copacabana antes da bossa nova?

    Samba de gafieira, samba-exaltação, samba de breque (salve, Morengueira. A benção, Jorge Veiga).Ou mesmo o samba de enredo que, desfigurado ao longo dos anos, às vezes ainda acerta na mosca. Sem esquecer o samba-joia dos anos 1970, de legítima extração paulista. Ou o sambalanço, o samba-jazz e o samba-rock, que devem arrepiar o Tinhorão.

    alvaro costa e silva

    Trabalha como jornalista desde 1988. Em redações de jornais e revistas cariocas, foi repórter, redator, editor, colunista. Escreve às terças.

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