RIO DE JANEIRO - Nada define melhor o estado de interinidade (ou de fragilidade, como preferir) do governo Temer que a atuação confusa de seu ministério composto na pressão dos votos que afastaram Dilma no Congresso. É um gabinete que gera desconfiança, por lembrar os anteriores no número de ministros envolvidos na Lava Jato e que também respondem a outras acusações na Justiça. Sem falar nos "alfinetes de influência" de Eduardo Cunha.
Quando há eleição direta para presidente, com a população sabendo do programa do candidato e conhecendo aqueles que o cercam, é comum a confiança (e a licença para aprovar medidas impopulares) enquanto durar a lua de mel: uns cem dias. O Verissimo até bolou uma metáfora futebolística para a situação, segundo a qual nenhum juiz expulsa ou dá pênalti no primeiro minuto de jogo. Um zagueiro (digamos que o nome dele seja Serra) pode entrar com tudo na canela.
Só que Michel Temer já pegou o segundo tempo rolando, pau comendo solto no gramado, torcidas nas arquibancadas esgoelando-se nos xingamentos. E seu time, fominha e atuando de salto alto, não tem ajudado. Ministros falam uma coisa hoje e, no mesmo dia, são obrigados a desmentir, ou são desmentidos pelo próprio presidente.
Ao recriar o Ministério da Cultura, não conseguiu pôr fim ao salseiro armado pela classe artística. (Cá pra nós, acho que quem decidiu a parada em favor do MinC foi a Fernanda Montenegro. Encarar a Fernandona do outro lado do campo não é brincadeira).
A tática de "arrecuar os arfes para evitar a catastre" virou a essência do governo provisório. A bomba nesta segunda (23) revelada com as gravações de Romero Jucá propondo um pacto para deter o avanço da Lava Jato e consagrar a impunidade encurralou Temer mais ainda na defesa. O ministro do Planejamento forçou o cartão vermelho, e o jogo segue quente.
Trabalha como jornalista desde 1988. Em redações de jornais e revistas cariocas, foi repórter, redator, editor, colunista. Escreve às terças.