RIO DE JANEIRO - Sairá no início de julho um livro de doer o estômago: "A Fome", de Martín Caparrós. Editado pela Bertrand Brasil, a quarta capa traz o seguinte trecho: "Se você se der ao trabalho de ler este livro, se você se entusiasmar e lê-lo em — digamos — oito horas, nesse lapso terão morrido de fome umas oito mil pessoas".
Não será fácil lê-lo em oito horas: a obra tem mais de 700 páginas. E machuca, incomoda, revolta, a cada uma delas. É esta a intenção do autor que, a certa altura, confessa que ele próprio não gostaria de ler o livro que está escrevendo e que o levou a viajar pelo mundo: Índia, Bangladesh, Níger, Quênia, Sudão, Madagascar, Argentina, Estados Unidos, Espanha. O Brasil também é citado, como país emergente na exportação de alimentos que aceita as regras especulativas do livre-comércio global.
O jornalista argentino radicado em Barcelona mostra que, hoje, há muito mais gente com fome — ou mesmo em situação de "hambruna", fome generalizada, escassez absoluta de alimentos em determinada região — do que há 40 anos. Quase um bilhão de pessoas incapazes de suprir suas necessidades de alimentação.
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As razões são a perda de terras, o fim do apoio estatal, a manipulação dos preços internacionais, que arruinaram os agricultores, expulsando-os da própria terra e levando-os a morar nas favelas e na periferia das grandes cidades, onde vivem de maneira pior.
Em sua argumentação — que assume a forma ora da reportagem, ora do ensaio, e até do panfleto à século 19 — Caparrós está convencido de que temos a capacidade de alimentar todo o mundo. Segundo ele, a fome contemporânea é a mais canalha da história: nem sequer existe a justificativa de que não há comida suficiente. Não o fazemos devido a um sistema de circulação de bens que concentra a riqueza nas mãos de poucos.
Trabalha como jornalista desde 1988. Em redações de jornais e revistas cariocas, foi repórter, redator, editor, colunista. Escreve às terças.