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    Alvaro Costa e Silva

    O exterminador de Brasília

    05/07/2016 02h00

    RIO DE JANEIRO - Um filme realizado em priscas eras — 1987! — ficou famoso pela cena final com Glenn Close. Depois de afogada na banheira, ela consegue ressurgir, de faca na mão, em sua última tentativa de matar todo mundo: o amante, a mulher do amante, a filha do casal. Até o coelhinho de estimação da família tinha ido parar na panela.

    "Atração Fatal" é um abacaxi implausível: só o Michael Douglas trocaria, mesmo que por apenas uma noite, a Anne Archer pela senhorita Close, com seus cabelos de vassoura de piaçava – última moda na época. Mas a cena da ressuscitada, a mulher desprezada que nem a morte afasta da vingança, pegou, e foi copiada em centenas de thrillers chinfrins.

    Divulgação
    Cena de 'Atração Fatal' (1987)
    As atrizes Glenn Close e Anne Archer em cena do filme 'Atração Fatal' (1987)

    Também quase cômico ao se recusar a morrer era o Arnold Schwarzenegger no primeiro "O Exterminador do Futuro", de 1984 (!). Uma bomba o implode, mas mesmo assim ele prossegue na missão de matar todas as Sarahs Connors de Los Angeles, até que uma prensa o esmaga definitivamente. Faz mais sentido, afinal trata-se de um androide com o esqueleto recoberto de pele.

    Eduardo Cunha, em sua ânsia de imortalidade política, mostra-se ainda mais resistente que ciborgues e amantes enlouquecidas. Esforço do qual participa Michel Temer, que costuma recebê-lo, aos domingos à noite, no Palácio do Jaburu, para conversas envolvendo acordos de salvação e colaboração. Contudo, a delação de Fabio Cleto, ex-vice-presidente da Caixa — segundo a qual Cunha participou de mais um esquema de propina que movimentou R$ 7,3 milhões – tem força suficiente para esmagar qualquer Schwarzenegger. A nova denúncia aumenta o prontuário particular da bandalheira, já bem volumoso com os navios-sonda da Petrobras, as contas na Suíça e o Porto Maravilha do Rio.

    O vilão morre no fim. E pode levar junto o Drácula, ou o mordomo do Drácula, sei lá.

    alvaro costa e silva

    Trabalha como jornalista desde 1988. Em redações de jornais e revistas cariocas, foi repórter, redator, editor, colunista. Escreve às terças.

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