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    Alvaro Costa e Silva

    É possível ver Jacob em movimento

    19/07/2016 02h00

    Folhapress
    O instrumentista e compositor Jacob do Bandolim
    O instrumentista e compositor Jacob do Bandolim

    RIO DE JANEIRO -Três chorões –Jacob do Bandolim, Turibio Santos e Hermínio Bello de Carvalho– pegam a barca de Niterói. Vão à casa de Nhonhô, ardoroso fã de Jacob que organiza saraus para ouvi-lo tocar. Durante a travessia, o bandolinista se distrai folheando as partituras do concerto de Castelnuovo-Tedesco para violão e orquestra, que Turibio traz debaixo do braço.

    Já dentro de um táxi, Jacob começa a assobiar trechos do que leu há pouco, e é interrompido por Turibio: "Jacob, não é bem assim, a melodia está errada". A resposta vem depois de uma baforada no cigarro: "Estou assobiando a parte do violoncelo". E vai assobiando o primeiro violino, a clarineta, a flauta, até a casa de Nhonhô.

    Como ele havia decorado tudo em tempo tão curto? Porque era Jacob do Bandolim que, reza a lenda, aprendeu a solfejar e toda a notação da harmonia em apenas um dia de aula com o professor Dalton Vogeler, e daí partiu para criar o conjunto Época de Ouro e compor clássicos do choro –"Doce do Coco", "Noites Cariocas", "Assanhado".

    Jacob costumava vaticinar que o choro morreria com ele. Felizmente errou. Antes de morrer, aos 51 anos, em 1969, comprou um gravador Philips onde registrou 200 rolos magnéticos com cerca de 300 horas de áudio, incluindo centenas de programas de rádio, discos, ensaios e saraus. Apesar do zelo de pesquisador, não havia imagem em movimento de Jacob tocando seu bandolim, o que impedia o estudo visual de sua técnica –a forma de pegar na paleta com a mão direita e digitar as notas com a esquerda.

    Depois de anos de procura, enfim foi encontrado um vídeo, semana passada. É um fragmento do cinejornal "Bandeirantes na Tela", que mostra a cerimônia do Prêmio Guarani, de 1954, que Jacob ganhou na categoria de melhor instrumentista. A memória da cultura nacional, tão desprezada, agradece.

    alvaro costa e silva

    Trabalha como jornalista desde 1988. Em redações de jornais e revistas cariocas, foi repórter, redator, editor, colunista. Escreve às terças.

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