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    Alvaro Costa e Silva

    Centenário do samba está três anos atrasado

    15/11/2016 02h00

    Bruno Santos/ Folhapress
    Fafá de Belém se apresenta no palco República, no Tributo ao Calby Peixoto, da Virada Cultural 2016.
    A cantora Fafá de Belém, que cantou o Hino Nacional em comemoração ao samba no Planalto

    RIO DE JANEIRO - É só inventar um centenário, como este do samba, que se vende qualquer peixe. Semana passada, o governo gastou quase R$ 600 mil, sem licitação, para promover um show onde se apresentaram, entre outros, Neguinho da Beija-Flor, Áurea Martins e Márcio Gomes. Como não conhecia este último sambista, fui ao Google e descobri que ele é tratado como "xodó das vovós". Na abertura Fafá de Belém cantou o Hino Nacional (cachê de R$ 15 mil), e o túnel do tempo levou Michel Temer aos comícios das Diretas-Já. Ato falho.

    Já o centenário do samba é ato falso. Como se gênero musical pudesse ter dia exato de nascimento, está valendo o escrito na Biblioteca Nacional, segundo o qual, em 25 de outubro de 1916, o samba carnavalesco "Pelo Telefone" teria sido executado pela primeira vez num velho teatro da Tijuca. O registro foi feito, sob o nº 3.295, em 27 de novembro do mesmo ano.

    Sem dúvida, "Pelo Telefone" ganhou a fama com sua colcha de retalhos musicais, aproximados do maxixe. E o refrão da quarta parte, quem diria, teve origem no folclore nordestino. Acontece que, três anos antes, em 1913, já havia sido gravada a composição "Em Casa de Baiana", de Alfredo Carlos Brício, como "samba de partido alto". Ou seja, estamos comemorando uma data supostamente redonda com ligeiro atraso.

    E o autor? Cadê o autor da façanha? Na letra fria, Donga e Mauro de Almeida (o jornalista "Peru dos Pés Frios") são os donos de "Pelo Telefone". Mas, no batuque e no improviso, a lista dos que reivindicaram a autoria é longa: Germano Lopes da Silva, Hilário Jovino Ferreira, João da Mata, Didi da Gracinda — e até Sinhô, o "Rei do Samba", e a própria Tia Ciata da Pequena África carioca na praça Onze.

    Sem estresse. Na hora das homenagens, sempre cabe mais um penetra. Sobretudo quando a verba é pública.

    alvaro costa e silva

    Trabalha como jornalista desde 1988. Em redações de jornais e revistas cariocas, foi repórter, redator, editor, colunista. Escreve às terças.

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