Patrícia Santos - 11.abr.1995/Folhapress | ||
O escritor Antonio Callado (1917-1997) |
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Colunistas
Saturday, 27-Apr-2024 08:35:26 -03Alvaro Costa e Silva
Centenário revela curiosidades e manias do autor de 'Quarup'
07/02/2017 02h00
RIO DE JANEIRO - Centenário bom é centenário com novidades. O de Antonio Callado, que transcorre este ano, está repleto delas: um documentário de Emília Silveira, uma coletânea de crônicas políticas, a descoberta de peças teatrais inéditas escritas para o serviço brasileiro da BBC durante a Segunda Guerra. Sua correspondência, guardada na Fundação Casa de Rui Barbosa, poderá ser reunida em livro.
Sua obra romanesca, com a qual o escritor quis entender "o atoleiro em que o Brasil se meteu", segue firme nas livrarias. Chamo a atenção para seu último romance, "Memórias de Aldenham House" (1989). Sem largar a obsessão política, é um delicioso entretenimento, que mistura um assassinato à Agatha Christie ao impenetrável "Finnegans Wake" de James Joyce, a cuja tradução se dedica umas das personagens. Só o Callado, que Nelson Rodrigues chamava de "o único inglês da vida real", para bolar essa equação.
E só mesmo o Callado para, depois de 37 anos de labuta no jornalismo, aposentar a máquina alemã, uma Erika semiportátil, e resolver escrever à mão, com canetas esferográficas em cadernos espiralados. O plano era, a partir dali, só escrever ficção. Adota estranha mesa, com a qual passa a ter uma relação fetichista. Uma peça com pés de metal, dobrável, com alavancas ajustáveis de altura, que carrega de um canto a outro do apartamento no Leblon, à procura do melhor lugar para ir tomando notas, de maneira bem devagar.
Esse processo representou uma guinada estilística: "Reflexos do Baile" (1976) e "Sempreviva" (1981) têm frases longas e rebuscadas (sobretudo belíssimas) que violam a sintaxe padrão; diversas vozes narrativas; uma aparente falta de coesão e sentido na trama.
Aguardo o dia em que uma acadêmica há de redigir a seguinte tese: "O Método da Mesa Aplicado a Dois Romances de Antonio Callado".
Trabalha como jornalista desde 1988. Em redações de jornais e revistas cariocas, foi repórter, redator, editor, colunista. Escreve às terças.
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