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    Alvaro Costa e Silva

    O dia em que o mochileiro das propinas pegou o metrô

    18/04/2017 02h00

    Ellan Lustosa/Código19/Folhapress
    Governador Luiz Fernando Pezão em frente ao prédio da Justiça Federal, no Rio, onde depõe como testemunha de defesa de Sérgio Cabral
    Pezão em frente à Justiça Federal, no Rio, onde depôs como testemunha de defesa de Sérgio Cabral

    RIO DE JANEIRO - O homem de terno, gravata e sapatos bicudos pegou a linha verde do metrô em Botafogo. Era o meio da tarde, o vagão não estava lotado e todos os passageiros imediatamente o olharam. Ele trazia uma mochila bastante cheia grudada ao peito e disfarçava o nervosismo.

    A situação materializou mais uma espantosa notícia de nossos tempos: o corruptor da Odebrecht Fernando Migliaccio, com toda sua expertise, havia garantido na deduragem à Lava Jato que, dependendo das cédulas, cabiam até R$ 2 milhões ou R$ 3 milhões dentro de uma simples mochila como aquela que o homem carregava.

    "Esse tem cara de ser da turma do Cabral e do Pezão", pensou a dona de casa, em choque com a revelação de que o ex e o atual governador do Rio receberam da empreiteira, desde 2006, R$ 120 milhões. No esquema, a execução de obras superfaturadas, entre as quais a construção de casas na região serrana, após a tragédia das chuvas em 2011 que deixou 900 mortos.

    "Com essa pinta de príncipe decadente e ar de arrogância, o cara só pode ser um dos garotos do Eduardo Paes", decidiu o estudante que ocupava o lugar preferencial dos idosos. Nas delações, o ex-prefeito aparece como beneficiário de R$ 11,6 milhões em espécie (quantia suficiente para encher quatro mochilas) e US$ 5,75 milhões em contas no exterior. O dinheiro irrigaria a campanha da reeleição em 2012, quatro anos antes da Olimpíada.

    "É torcedor do Goytacaz lá de Campos", definiu o desempregado que se equilibrava no balaústre, ligando o mochileiro ao casal Garotinho e Rosinha, suspeito de receber R$ 12 milhões no caixa dois.
    Antes de saltar na Cinelândia, o homem falou, com a cabeça baixa: "É uma acusação falsa, totalmente desprovida de provas. Sou o maior interessado no esclarecimento de toda essa situação".

    alvaro costa e silva

    Trabalha como jornalista desde 1988. Em redações de jornais e revistas cariocas, foi repórter, redator, editor, colunista. Escreve às terças.

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