• Colunistas

    Saturday, 18-May-2024 07:44:00 -03
    Alvaro Costa e Silva

    João Saldanha era o anti-Nelson Rodrigues

    27/06/2017 02h00

    Acervo UH/Folhapress
    SÃO PAULO, SP, BRASIL, 26-05-1969: Futebol: João Saldanha, técnico de futebol, jornalista e escritor. (Acervo UH/Folhapress. Negativo: 12818-67)
    João Saldanha, jornalista e escritor, em foto de maio de 1969

    RIO DE JANEIRO - João Saldanha, cujo centenário de nascimento comemora-se em 3 de julho, garantia —e ai de quem duvidasse dele!— que comeu poeira chinesa atrás de Mao Tsé-tung na Grande Marcha e no Dia D desembarcou na Normandia com o general Montgomery.

    Saldanha também esteve, de 1950 a 1990, em todas as Copas do Mundo, como analista de futebol e torcedor. Contava que só perdeu a primeira, em 1930, no Uruguai, porque preferiu prestigiar uma corrida de cavalos em cancha reta, "a mais importante e célebre das fronteiras", realizada perto do seu Alegrete (RS) natal. Também viu, em 1933, a grande vitória de Mossoró no primeiro Grande Prêmio Brasil de Turfe.

    Segundo Rubem Braga, era "um cara que não perdeu o topete gaúcho e incorporou muito da malícia carioca". Famoso no Brasil inteiro, costumava ser parado na rua. Menos no Rio. Aqui, era reconhecido, mas o sujeito fingia que não dava bola e esperava certa distância para gritar pelas suas costas: "O Botafogo não é de nada!".

    Dos múltiplos Joões —líder estudantil, dono de cartório, brigão, mitômano, comunista de carteirinha, jogador de basquete, ator de cinema, candidato a vice-prefeito, comentarista de rádio e televisão, cartola que levou Didi para General Severiano, selecionador das "feras" no Mundial do México, o Sem-Medo— destaca-se o cronista esportivo. Batucando nas pretinhas, foi, por excelência, o anti-Nelson Rodrigues. Ao hiperbólico e homérico de Nelson, Saldanha contrapunha o coloquial das esquinas. Escrevia como se estivesse conversando na roda de amigos da rua Miguel Lemos, em Copacabana.

    Dicas de leitura: o recém-lançado "As Cem Melhores Crônicas" (LivrosdeFutebol). Ou a nova edição de "Os Subterrâneos do Futebol" (Lacre). Meu exemplar autografado de "Meus Amigos" (Mitavai) emprestei e nunca mais vi de volta. Vida que segue.

    alvaro costa e silva

    Trabalha como jornalista desde 1988. Em redações de jornais e revistas cariocas, foi repórter, redator, editor, colunista. Escreve às terças.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024