• Colunistas

    Friday, 03-May-2024 02:21:34 -03
    Alvaro Costa e Silva

    Em nome da segurança, flanar nas ruas do Rio ficou impossível

    25/07/2017 02h00

    Ricardo Borges - 3.abr.2017/Folhapress
    Rio de Janeiro, Rj, BRASIL. 03/04/2017; Funcionarios da COMLURB lavam escola municipal Daniel Piza, onde morreu Maria Eduarda, 13, após tiroteio na ultima Quinta-Feira(30) proximo a escola.( Foto: Ricardo Borges/Folhapress)
    Funcionários lavam a escola Daniel Piza, em Acari (zona norte do Rio), onde garota morreu baleada

    RIO DE JANEIRO - Dois amigos, ambos ligados às artes plásticas, são notáveis andarilhos. O pintor Henri Carrières costuma pegar um ônibus ao acaso e, no ponto final, descobre que está na distante Gardênia Azul. Ele volta a pé para casa, em Santa Teresa, memorizando a colorida geografia urbana com a qual se depara ao longo do trajeto. Depois o cenário reaparece em suas telas.

    De andanças a esmo, o desenhista Cássio Loredano tirou a matéria-prima para o livro "Rio: Papel e Lápis", no qual a cidade construída (casarões coloniais, catedrais, pontes e estações de trem) surge como se aos olhos de quem caminha, na perspectiva do homem na calçada. Quando encontra um obstáculo, Loredano exercita a desobediência civil lembrando que, na juventude, foi campeão dos 110 metros com barreira.

    Aqueles que gostam de flanar no Rio terão de mudar seus hábitos. Uma lei municipal proposta pela vereadora Rosa Fernandes (PMDB) autoriza o fechamento de ruas por cancelas e guaritas, e o controle da passagem de pedestres e veículos. Um dos artigos prevê que, entre 22h e 7h, o acesso de pessoas será proibido; o de automóveis, em qualquer horário.

    Em alguns pontos já vigora o toque de recolher. Neles, a passagem só é permitida após revistas por seguranças privados. Um bairro inteiro da zona norte, Vila Kosmos, com autorização da prefeitura, está fechado, assim como condomínios na Barra e no Recreio, a praia da Joatinga e diversas ruas na zona sul. A justificativa para as proibições é a mesma, sempre: o aumento da criminalidade.

    Um levantamento do Instituto de Segurança Pública revelou que, nas praias, concentra-se a absurda estatística de roubos e furtos a turistas: de janeiro de 2016 a fevereiro de 2017, 2.816 registros. Que tal uma cancela gigante, do Leme ao Pontal, com quilômetros de extensão? Vai ficar lindo.

    alvaro costa e silva

    Trabalha como jornalista desde 1988. Em redações de jornais e revistas cariocas, foi repórter, redator, editor, colunista. Escreve às terças.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024