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    Alvaro Costa e Silva

    E se Temer não fosse presidente, mas jornalista?

    26/12/2017 02h00

    Adriano Machado/Reuters
    US President Donald Trump (L) and Brazil's President Michel Temer talk ahead the third working session "Partnership with Africa" on the second day of the G20 Summit in Hamburg, Germany, July 8, 2017. Leaders of the world's top economies gather from July 7 to 8, 2017 in Germany for likely the stormiest G20 summit in years, with disagreements ranging from wars to climate change and global trade. / AFP PHOTO / John MACDOUGALL
    O presidente Michel Temer

    RIO DE JANEIRO - Millôr Fernandes dizia que, em qualquer roda, é fácil reconhecer o jornalista: é o que está falando mal do jornalismo. Hoje todos falam mal. Até o Temer.

    O presidente falou de improviso, o que, no caso dele, é um convite ao desastre. Não deu outra: criticou o jornalismo pelos motivos errados. Contou que quis ser jornalista, mas esperava uma profissão "mais romântica" e desistiu. Trabalhar em jornal só é uma atividade romântica nas telas do cinema. Aliás, nem nelas, se você viu os filmes certos: "A Montanha dos Sete Abutres", com Kirk Douglas, e "A Primeira Página", com Jack Lemmon e Walter Matthau, ambos dirigidos por Billy Wilder.

    Temer lembrou que, no fim da década de 1950, atuou como redator (ou "copidesque", como diz) na falecida "Última Hora", de Samuel Wainer. Na época, ele era um adolescente. Se já fosse chegado em mesóclises, citações em latim e linguagem tediosamente rebuscada, como hoje, estava no lugar errado. Nunca cortaria um "outrossim" no texto do repórter.

    Antes de entrar na redação, Temer julgava que lugar de jornalista era na rua, "colhendo notícias". A vida do repórter é —ou era, antes da internet— gastar sola de sapato. Mas, de novo, o presidente incorre num erro de função. Além de disposição para correr atrás, é preciso que o repórter tenha sensibilidade para entender o que se passa na rua. Temer está a anos-luz disso.

    Para começar, não descarta a possibilidade de candidatar-se a presidente. Em tom de piada, comemorou a pesquisa em que sua aprovação subiu de 3% para 6%. E, antes que o ano terminasse, soltou a frase mais sem noção da temporada: "As pessoas têm vergonha de dizer, embora aprovem o governo". Pensando bem, se ele tivesse sido jornalista, estaríamos bem melhor. Mesmo usando "outrossim" nas reportagens e cometendo mesóclises nos títulos.

    alvaro costa e silva

    Trabalha como jornalista desde 1988. Em redações de jornais e revistas cariocas, foi repórter, redator, editor, colunista. Escreve às terças.

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