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    Américo José

    A obsessão por estatísticas pode gerar um efeito colateral perverso

    23/10/2016 02h00

    Para sobreviver em um cenário cada vez mais competitivo, as empresas perceberam que precisam ter uma gestão profissional, com acompanhamento constante de indicadores e foco em resultados.

    Cada nova estratégia deve ser precedida por um bom planejamento e pela criação de processos que ajudem os colaboradores a agir de forma organizada e eficiente. O "achismo" perdeu espaço. Hoje, as estatísticas nos dizem se uma ação funciona ou não na prática.

    Essa profissionalização é extremamente positiva. Afinal, navegar sem bússola não é recomendável. Porém, a obsessão por estatísticas pode ter um efeito colateral perverso: as pessoas passam a acreditar apenas nos números e deixam de acreditar em si mesmas. Não levam em conta sua própria opinião e seu julgamento sobre aquilo que observam. Apenas seguem as tabelas.

    As pessoas têm medo de errar, por isso tendem a seguir cegamente as estatísticas -assim, se algo não funcionar, sempre será possível culpar os números. O perigo é que, ao agir assim, trilhamos apenas caminhos certos e comprovados. Não encaramos novos riscos, mas também não abrimos espaço para criatividade e inovação.

    É claro que os números são importantes, mas eles não podem ser os únicos a basear a tomada de decisão. Precisamos observar a realidade e refletir sobre ela, captando sinais que os gráficos não mostram. Assim, conseguimos perceber comportamentos, tendências e até mesmo ideias que ainda não se materializaram. E interpretar esses sinais antes dos concorrentes pode ser o pulo do gato de que a empresa tanto precisa para lançar um novo produto, criar uma nova estratégia ou conquistar um novo mercado.

    Um profissional talentoso é aquele que tem acesso à mesma informação que os outros, mas faz análises mais completas que os demais. E como ele consegue isso? Usando seu conhecimento, seu repertório e um pouco da sua sensibilidade para ligar os pontos e chegar a conclusões.

    E como diferenciar o profissional inteligente do teimoso? Quando alguém quer contrariar os números, é difícil saber se estamos diante de um colaborador talentoso ou apenas de alguém que simplesmente não aceita os fatos. A linha é muito tênue. Porém, mesmo para distinguir um do outro, não vale recorrer apenas aos dados: quem quer chegar mais longe precisa arriscar de vez em quando -e seguir a intuição.

    américo josé

    É consultor de empresas e palestrante há mais de 20 anos.
    Escreve aos domingos, mensalmente.

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