• Colunistas

    Wednesday, 01-May-2024 08:56:46 -03
    Américo José

    Funcionário competente deve ser premiado, mas não precisa virar chefe

    04/06/2017 02h00

    Metas duras, corte de custos, reclamações de clientes, demissões de colegas, excesso de trabalho: em épocas de crise, as empresas podem se tornar ambientes ainda mais hostis do que normalmente já são. Portanto, é justamente nesse momento que a figura do líder se torna ainda mais importante.

    Aquele que se coloca à frente da equipe assume riscos, apresenta novas ideias, indica caminhos, oferece ajuda, trabalha em nome do grupo. Esse é o verdadeiro líder.

    A crise atual trouxe muitos problemas para as empresas. Mas uma das questões mais graves que ela escancarou foi a baixa qualidade da liderança —e a angústia que essa ausência provoca nas equipes.

    As pessoas estão inseguras, perdidas e paranoicas. Sem um bom líder no comando, a confiança e a cooperação desaparecem.

    A meu ver, uma das causas da má qualidade da liderança está nos critérios de promoção. Cada vez mais, a única régua usada para medir o desempenho do funcionário é a meta. Assim, quem atinge a meta não apenas ganha bônus como se qualifica para ocupar cargos de chefia.

    Fotolia

    Parece justo, mas esse modelo esconde uma falha. É evidente que uma pessoa competente precisa ser bem remunerada e premiada. Ninguém questiona isso. Só não precisa necessariamente ser promovida a chefe. Há outros caminhos para ascender na carreira.

    O melhor vendedor deve ter a melhor remuneração da equipe de vendas, mas não tem necessariamente de ser o líder desse time. A liderança deve ser ocupada por aquele com maior capacidade de melhorar a performance de toda a equipe, e não apenas de si mesmo.

    Pela lógica torta da maioria dos negócios, porém, o melhor vendedor será promovido a chefe, mesmo que não tenha as características básicas que um bom líder precisa ter.

    Ao fazer isso, a empresa comete pelo menos três erros. Em primeiro lugar, compromete o desempenho de seu melhor vendedor, que agora estará ocupado com outras tarefas. Depois, cria um chefe inábil, que não vai ajudar ninguém a vender mais e ainda culpará a equipe pelos maus resultados.

    Por fim, ao promover alguém baseado apenas na conquista de metas, a empresa ainda mostra que o que importa mesmo são os resultados. Todos percebem que, na prática, as atitudes que demonstram confiança, cooperação e respeito não são realmente apreciadas.

    Valorizar apenas as metas, promover pessoas sem considerar competências comportamentais e transformar ótimos profissionais em péssimos chefes: essa é a fórmula para criar um ambiente de trabalho hostil e inibir a formação de verdadeiros líderes.

    É preciso fazer o contrário disso para reverter a crise de liderança nas empresas.

    américo josé

    É consultor de empresas e palestrante há mais de 20 anos.
    Escreve aos domingos, mensalmente.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024