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    André Trigueiro

    Cápsulas de café, isopor e garrafas PET são os maiores inimigos da reciclagem

    23/07/2017 02h00

    Karime Xavier/Folhapress
    Cápsulas do café em loja nos Jardins.
    Cápsulas do café em loja nos Jardins, em São Paulo

    São aterrorizantes os impactos causados por três gêneros de produtos que se popularizaram rapidamente mundo afora sem que a humanidade tenha conseguido assegurar a destinação inteligente deles no momento em que são descartados como resíduos. Todos são recicláveis, mas isso não é suficiente para que tenham valor na cadeia produtiva que coleta e reinsere esses produtos no mercado.

    A maior parte das cápsulas de café, por exemplo, não é reciclada. Algumas estimativas dão conta de que, se essas cápsulas fossem enfileiradas lado a lado, seria possível dar, no mínimo, dez voltas e meia em torno do planeta.

    No início do ano passado, Hamburgo, a segunda maior cidade da Alemanha, resolveu banir as cápsulas de café das repartições públicas para não agravar a situação. Será que George Clooney –um dos atores mais politicamente corretos do cinemão americano– já se arrependeu de ter emprestado seu charme às cápsulas?

    Enquanto isso, o isopor se multiplica assustadoramente no varejo, sendo cada vez mais utilizado para a fabricação de copos, pratos, bandejas e caixas que levam, no mínimo, 150 anos para se decompor.

    O preço baixo explica a popularidade do isopor, que, embora seja reciclável, é leve demais para despertar o interesse dos catadores que ganham seu sustento a partir do peso dos materiais. Em vários lugares do mundo, o volume crescente de isopor se tornou um pesadelo. Nos Estados Unidos, pelo menos 70 cidades (entre as quais Washington, São Francisco e Seattle) decidiram banir as embalagens de isopor.

    O tempo que você levou para chegar até essa parte do texto foi suficiente para que a humanidade descartasse mais 900 mil garrafas PET por aí. A cada segundo, 20 mil garrafas PET são jogadas fora no mundo.

    O descarte de materiais plásticos assombra a comunidade científica. Em 65 anos, a produção foi multiplicada por 183 (4,8 milhões de toneladas por ano em 2015), sendo que apenas 5% disso chegam a ser reciclados.

    Boa parte desses materiais vai parar nos oceanos e, ao ser confundida com alimentos, provoca a morte de aproximadamente 100 mil espécies marinhas por dia. Esse lixo vai se degradando lenta e progressivamente até virar microplástico (do tamanho de bactérias), entrar na cadeia ecológica e parar dentro de nós quando ingerimos frutos do mar.

    A humanidade dispõe de tecnologia para virar esse jogo, promover uma ampla reengenharia de processos inspirada no ecodesign e não emporcalhar dessa forma a nossa "casa comum". Enquanto isso não acontece, faça a sua parte: discrimine –ou descarte adequadamente– esses e outros produtos reconhecidamente ameaçadores aos nosso equilíbrio e bem-estar.

    andré trigueiro

    Especializado em gestão ambiental e sustentabilidade, é jornalista, professor, escritor e conferencista. Escreve aos domingos, mensalmente.

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