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    André Barcinski

    Documentário do Netflix revela as cicatrizes do racismo por Nina Simone

    19/07/2015 02h00

    Um novo documentário, disponível no Netflix, joga luz sobre uma das personalidades mais cultuadas e enigmáticas da música do século 20: a cantora Nina Simone (1933-2003). "What Happened, Miss Simone?" foi produzido com apoio da família da norte-americana, que cedeu fotos e imagens raras ou inéditas.

    O resultado é um perfil abrangente e informativo sobre uma cantora fora de série, para quem a música sempre foi uma válvula de escape para suas tristezas e convicções sobre a sociedade e a política.

    Nascida Eunice Waymon em uma família pobre de oito irmãos na Carolina do Norte, começou a tocar piano em cultos ministrados pela mãe, uma pastora metodista. Eunice sonhava em ser pianista clássica, mas o racismo vigente à época impediu os planos da menina, que acabou cantando blues e jazz em clubinhos de Atlantic City. Para que a mãe não a descobrisse, Eunice adotou o nome artístico Nina Simone.

    Divulgação
    Cena do documentário "What Happened, Miss Simone?"
    Cena do documentário "What Happened, Miss Simone?"

    No fim dos anos 1950, Nina já era famosa por sua voz profunda e marcante. Seus discos vendiam muito. Em 1961, casou com Andrew Stroud, um policial que largou a carreira para virar seu empresário. O relacionamento dos dois era conflituoso e marcado por brigas terríveis. A cantora acusava o marido de espancá-la regularmente.

    O filme mostra Nina Simone como uma mulher insegura, profundamente marcada pelo racismo que sofrera na infância e pela violência do marido. No início dos anos 1960, quando a tensão racial e social crescia nos Estados Unidos, ela começou a cantar letras políticas e antirracistas, como a furiosa "Mississippi Goddam". A venda de discos caiu e as ofertas de shows rarearam.

    Os últimos 25 anos da vida de Nina Simone foram uma tristeza só: falida e sofrendo de depressão e de câncer, ela acabou tocando em pequenos clubes para os poucos aficionados que ainda a cultuavam.

    Assistindo aos muitos números musicais mostrados no filme, é impossível não se convencer de que nunca houve uma cantora como ela.

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    CONEXÕES

    Discos

    Nina Revisited
    Tributo à diva com participação, entre outras, de Lauryn Hill, que canta em seis faixas. Vale para provar que ninguém consegue interpretar Nina Simone como a própria Nina Simone.

    ARTISTA: Nina Simone
    GRAVADORA: RCA (2015, R$ 35 -importado)

    Nina Simone Sings the Blues
    Lançado originalmente em 1967, traz Nina no auge e cantando um repertório absolutamente matador, como "Do I Move You?", "Backlash Blues" e "I Want a Little Sugar in My Bowl". De cortar o coração.

    ARTISTA: Nina Simone
    GRAVADORA: RCA (1967, R$ 50 - importado)

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    LIVRO

    A Vítima Perfeita
    Hannah, que esteve no Brasil para a Flip, ficou conhecida entre os fãs de romances policiais quando foi escolhida pelos herdeiros de Agatha Christie (1890-1976) para escrever uma nova aventura do detetive Hercule Poirot, "Os Crimes do Monograma" (2014). "A Vítima Perfeita" foi lançado na Europa em 2007 e é um livro tenso e intrincado sobre uma mulher que investiga o sumiço do amante. O final surpreende.

    Sophie Hannah; tradução de Alexandre Martins (Rocco, 432 págs., R$ 39,50 ou e-book R$ 25,50)

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    DISCO

    Rise: The Collection
    Assim que terminou a breve e intensa carreira do Sex Pistols, o cantor John Lydon embarcou numa viagem sonora ainda mais desbravadora, criando o
    PIL (Public Image Ltd.). A banda misturava punk, sons eletrônicos e a anarquia musical de grupos do gênero alemão "krautrock", como Can, Faust e Neu!, que Lydon idolatrava. A coletânea é um excelente ponto de partida para quem quer conhecer o PIL.

    Public Image Ltd. (Spectrum, 2014, R$ 20 - importado)

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    FILME

    Vício Frenético
    O americano Harvey Keitel, em uma de suas melhores atuações no cinema, interpreta um tenente da polícia de Nova York que consegue ser pior e mais bandido do que os meliantes que ele persegue. Durante a investigação de um crime cometido contra uma freira, ele se envolve no submundo das apostas ilegais e entra em uma espiral de drogas, sexo e violência que só poderia ter saído da cabeça do diretor Abel Ferrara.

    Abel Ferrara (Versátil, 1992, R$ 39,90)

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