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    André Barcinski

    Arte nascida de escombros

    25/10/2015 02h00

    O Netflix está exibindo um documentário revelador que mostra como períodos de crise e desesperança podem resultar em movimentos culturais e sociais relevantes: "Rubble Kings", de Shan Nicholson.

    O filme conta a história das gangues de adolescentes que aterrorizaram Nova York —em especial a região do Bronx— na virada das décadas de 1960 e 70, e de como a trégua entre elas deu origem a um gênero musical e fenômeno cultural dos mais importantes, o hip-hop.

    O filme conta a decadência econômica de Nova York nos anos 1970 e mostra imagens impressionantes do abandono e da violência que tomaram a cidade. Calcula-se que num período de dez anos cerca de 30 mil imóveis tenham sido incendiados pelos proprietários com o intuito de receberem o dinheiro do seguro.

    Divulgação
    Cena do filme Rubble Kings
    Cena do filme "Rubble Kings"

    As ruas da cidade eram verdadeiras zonas de conflitos, com grupos de adolescentes, divididos em gangues de nomes chamativos —"Irmãos do Gueto", "Nômades", "Fantasmas"—, brigando entre si, e traficantes agindo livremente nas esquinas. Soldados voltavam da Guerra do Vietnã apenas para encontrarem conflitos em seus próprios bairros.

    A violência chegou a um nível tão incontrolado que as gangues não tiveram opção senão fazer um tratado de paz entre elas. Em dezembro de 1971, dezenas dessas organizações se reuniram em um clube do Bronx e assinaram um documento histórico que iniciou um período de paz e colaboração entre os grupos.

    Outro efeito imediato do armistício foi o desenvolvimento de cenas musicais e culturais fortes, lideradas por DJs como Kevin Donovan, integrante de uma conhecida gangue, a Black Spades. Sob o pseudônimo Afrika Bambaataa, Donovan começou a organizar shows e festas e logo se transformou em um pioneiro da emergente cultura hip-hop. Dos escombros da guerra de gangues, surgiu um fenômeno cultural que dominou o mundo.

    CONEXÕES

    FILMES

    Rubble Kings - muito bom

    Shan Nicholson (Netflix, grátis para assinantes do serviço)

    *

    O Ano Mais Violento - ótimo

    J. C. Chandor (Paris Filmes, 2014; DVD R$ 29,90 e Blu-ray R$ 59,90)

    Grande filme passado em 1981, supostamente o ano mais brutal da história recente de Nova York. Oscar Isaac é um empresário do setor de óleo para aquecimento de casas que vê seu negócio ameaçado pela sabotagem de um misterioso rival.

    *

    Taxi Driver - muito bom

    Martin Scorsese (Sony Pictures, 1976; DVD R$ 16,90 e Blu-ray R$ 29,90)

    Um dos melhores filmes já feitos sobre a Nova York cinza e violenta dos anos 1970, mostra um veterano do Vietnã (Robert De Niro) que vira motorista de táxi e precisa lidar, à sua maneira, com personagens do submundo. Um clássico absoluto.

    -

    FILME

    Kagemusha - A Sombra Do Samurai - ótimo

    Akira Kurosawa (Versátil, 1980; DVD R$ 49,90)

    Um dos grandes filmes do diretor japonês Akira Kurosawa (1910-1988), "Kagemusha" (1980) conta a história de um bandido que é sósia de um poderoso senhor feudal e acaba substituindo o guerreiro quando este morre assassinado —o personagem é interpretado pelo ator Tatsuya Nakadai, veterano de filmes de Kurosawa, como "Os Sete Samurais" (1954), "Yojimbo, o Guarda-Costas" (1961) e "Sanjuro" (1962). O DVD apresenta a versão integral do longa-metragem, com 180 minutos, além de vários extras interessantes, como um "making of" e entrevistas.

    *

    LIVRO

    Memórias Do Cinema - Um Idioma Universal - muito bom

    Organização de Renata de Almeida (Mostra Internacional de Cinema de São Paulo/Editora Brasileira, 464 págs., R$ 35); lançamento: sexta (30), 20h, na Blooks Livraria do shopping Frei Caneca (r. Frei Caneca, 569, 3º piso)

    No mês em que começa a 39ª edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o evento lança um livro que agrega diversos depoimentos de cineastas, críticos, atores e escritores sobre suas experiências formativas com a sétima arte. Dos diretores Helvécio Ratton, Jia Zhangke e Walter Salles ao ficcionista Ignácio de Loyola Brandão e ao jornalista (e também escritor) Zuenir Ventura, os textos têm tom memorialístico, pois oriundos de um ciclo de encontros com o público da mostra —que, ao final de cada intervenção, propõe questões aos palestrantes. Mesmo nesse registro mais afetivo, em que obsessões pessoais se sobrepõem a juízos teóricos, há pequenas aulas sobre algumas linhagens cinematográficas, como no depoimento de Maria do Rosário Caetano sobre sua "Paixão por Épicos Politizados".

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