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    André Barcinski

    Regina Casé põe um pouco de gambiarra na festa

    06/08/2016 02h00 - Atualizado às 09h43

    Dias atrás, a cineasta e dramaturga Daniela Thomas, uma das responsáveis pela cerimônia de abertura das Olimpíadas, disse uma frase que deixou muita gente preocupada: "Gambiarra é o que há". Para alívio geral, a cerimônia foi bonita e emocionante, com a linda coreografia dos índios, o parkour em cima dos prédios, e nem sinal da famigerada gambiarra.

    Quer dizer, pelo menos até surgir Regina Casé para dar o toque de improviso à festa: como se estivesse em um programa de auditório com quatro bilhões de pessoas na plateia, Casé proferiu mais uma de suas lições de moral sobre a importância da diversidade e ainda deu um jeitinho esperto de fazer um "merchan" de seu programa "Esquenta", que volta na Globo em outubro: "A festa vai esquentar!".

    Além da declaração de Daniela Thomas, outras frases proferidas por figuras importantes das Olimpíadas passaram a impressão de que a gambiarra será uma constante nesses Jogos. O presidente do COI (Comitê Olímpico Internacional), Thomas Bach, disse que brasileiros estão acostumados a fazer tudo no último minuto. Já o prefeito do Rio, Eduardo Paes, pediu aos cariocas que evitassem grandes deslocamentos no dia da abertura para não atrapalhar o trânsito.

    A gambiarra é intensa na Vila Olímpica, onde operários suam para consertar encanamentos defeituosos, ralos entupidos e lâmpadas que teimam em não acender, e onde atletas de ponta, que deveriam estar concentrados em suas provas, passam o tempo improvisando cortinas para o box do chuveiro e tentando dormir em camas que não os comportam.

    Algumas gambiarras demandarão mais esforço. Como esconder as toneladas de dejetos jogadas diariamente na Baía da Guanabara, local das competições de vela? Os ecobarcos - embarcações que recolhem lixo flutuante - darão conta do recado, ou veremos arquipélagos de lixo boiando em meio aos veleiros?

    O brasileiro parece mais preocupado com as reações dos visitantes do que com a realidade de nossas cidades. O que os gringos vão achar quando virem um cadáver de cavalo boiando na Marina da Glória? Michael Phelps vai gostar da piscina? Usain Bolt vai pegar muito engarrafamento?

    Deveríamos estar mais preocupados com o pós-Olimpíadas: a gambiarra vai prosseguir depois que os visitantes forem embora? A Baía da Guanabara vai continuar um esgoto a céu aberto? O novo metrô vai funcionar? O VLT vai ajudar o trânsito no centro da cidade? Os estádios, ginásios e alojamentos construídos para os Jogos serão abandonados, como ocorreu com várias obras realizadas para o Pan de 2007? A ver.

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