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    André Singer

    Espuma

    12/10/2013 03h00

    A principal virtude da decisão de Marina Silva de se filiar ao PSB foi a de ser inesperada. Ao fazer o surpreendente lance, a ex-senadora, que já vinha ocupando o centro da cena com o registro da Rede, continuou a dominar o noticiário. Mas, passado o efeito surpresa, o que restará?

    O aspecto engenhoso da solução encontrada por Marina para o impasse em que se encontrava foi que, quando todos esperavam uma definição, manteve o suspense.

    Registrando-se em agremiação que já tem candidato, ela não precisa definir agora se vai concorrer. Mais ainda: declarando apoio, em princípio, a Eduardo Campos, protege-se da acusação de ter aderido ao Partido Socialista Brasileiro (PSB) só para se candidatar, o que estaria em flagrante contradição com a proposta de renovar os costumes políticos nacionais.

    O pequeno, mas óbvio, detalhe que torna a construção pouco crível é que, para apoiar Campos, a líder da Rede não precisava ter se filiado ao PSB, bastando indicá-lo como postulante preferido à sucessão de Dilma Rousseff. A matrícula só existe para deixar aberta a possibilidade de ser ela mesma candidata. Para tanto, Marina arriscou a própria razão de ser do importante movimento renovador que dirige, o qual já começa em fusão com uma legenda tradicional.

    Eduardo funciona como biombo ideal para a candidatura de Marina, deixando-a em uma conveniente redoma até que as massas de classe média, na forma das pesquisas de intenção de votos, exijam que assuma, no primeiro semestre de 2014, a cabeça da chapa para "salvar o Brasil". Por que, então, teria o matreiro governador de Pernambuco aceito o negócio?

    O pernambucano deve ter avaliado que o risco valia a pena. Afinal, a jogada de Marina também o projeta ao primeiro plano dos meios de comunicação. Ainda pouco conhecido fora do seu Estado, o neto de Arraes precisa de exposição. Afora isso, com o respaldo da Rede, ele penetra em um eleitorado que, além de ser nacionalizado, é jovem, o que lhe garante longo futuro.

    Chegado o momento de decidir, se verá o que acontece, terá pensado Campos --que, por ser também jovem, pode-se dar ao luxo das experiências. Até a de ser vice em 2014.

    Com o objetivo de salvar a cara de seu partido, do qual ainda se espera uma contribuição consistente ao Brasil, Marina insiste em que a união é programática. Mas nem ela nem Campos são capazes de enunciar uma linha sequer do programa comum, pela simples razão de que ele não existe.

    Quando a espuma baixar, vão aparecer apenas dois candidatos, coabitando uma única sigla. Mas, até lá, terão sido, ambos, personagens de longa e proveitosa novela.

    andré singer

    É cientista político e professor da USP, onde se formou em ciências sociais e jornalismo. Foi porta-voz e secretário de Imprensa da Presidência no governo Lula.
    Escreve aos sábados.

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