• Colunistas

    Tuesday, 07-May-2024 01:04:30 -03
    André Singer

    Fogo cruzado e confuso

    08/03/2014 03h30

    Com Dilma Rousseff largando na dianteira da corrida presidencial, apoiada pela sólida base eleitoral lulista, ela será objeto de intensos ataques nos próximos meses. Por advirem de pontos muito diferentes do espectro ideológico, os disparos vão aumentar o sentimento de conturbação política que se insinua desde junho passado.

    Na confusão, como também o lulismo produziu uma grande mistura de ideias, será fácil gato aparecer como lebre e confundir os eleitores. Para ajudar a esclarecer o panorama, vai aqui um miniguia.

    Os que se opõem ao modelo lulista por pensarem que as mudanças, apesar de tênues, seguem a direção errada, estão objetivamente à direita, gostem ou não do rótulo. Para eles, o Brasil deveria seguir na trilha das reformas neoliberais que desvalorizam a mão de obra, alinhar-se automaticamente com os EUA na próxima configuração mundial que se aproxima e abandonar a tentativa de aumentar a igualdade à custa do gasto público. O PSDB os catalisa.

    Em duas ocasiões, o lulismo derrotou tais teses nas urnas (2006 e 2010) e, apesar da diminuição do ritmo de crescimento econômico, teria condições tranquilas de vencê-las pela terceira vez em outubro não fosse o fato de que esta campanha será marcada por novas forças de oposição ao centro e à esquerda.

    Ao centro, consolidou-se a cisão do PSB, tendo à frente Eduardo Campos, uma liderança regional sólida, jovem e hábil. Ao juntar-se com Marina Silva, o neto de Arraes formou uma coalizão que amplia, sobretudo entre a juventude, a circulação de propostas com ar moderno e pós-materialista. A noção de sustentabilidade os impulsiona.

    À esquerda, novos e velhos movimentos sociais, como o Passe Livre, de um lado, e os Sem-Teto, de outro, decidiram que não adianta mais ficar esperando. Perceberam que o governo de centro-esquerda só vai se inclinar mais para o lado dos dominados se houver pressão. Animados pelos resultados de junho, vão pôr o bloco na rua, mesmo que isso coloque em risco a reeleição de Dilma.

    A classe trabalhadora organizada também dá sinais de que considera esgotado o tempo de expectativa. A mobilização nacional marcada para o dia 9 de abril, em favor de reivindicações trabalhistas que estão objetivamente à esquerda, é um aviso de que a depender dos acordos que forem firmados por Dilma, sindicatos poderão afastar-se da órbita da atual presidente.

    Um bom exemplo, contudo, do contexto confuso em que tais embates vão acontecer é a posição da Força Sindical. Principal artífice dos protestos sindicais de esquerda no próximo mês, a central tem a sua figura mais expressiva, Paulo Pereira da Silva, aliada a Aécio Neves, o candidato da direita.

    andré singer

    É cientista político e professor da USP, onde se formou em ciências sociais e jornalismo. Foi porta-voz e secretário de Imprensa da Presidência no governo Lula.
    Escreve aos sábados.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024