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    André Singer

    Sinais amarelos

    12/04/2014 03h00

    A pesquisa Datafolha publicada no último domingo, em que Dilma aparece com seis pontos percentuais a menos nas intenções de voto, representa um momento importante da pré-campanha para a Presidência da República. Embora continue bem à frente dos prováveis adversários, Dilma Rousseff viu interrompida a tendência de recuperação de popularidade que a favoreceu por cerca de seis meses.

    Conforme todos sabem, os acontecimentos de junho provocaram uma queda abrupta de sua aprovação. Uma perda de apoio forte e rápida, como a de José Sarney após o descongelamento de preços, no final de 1986, e de Fernando Henrique Cardoso depois da desvalorização do real, no fim de 1998.

    Mas como desta vez não houve alteração radical do quadro econômico, o humor do eleitorado aos poucos começou a voltar ao normal. Ficou a impressão de que tudo havia sido produto de um evento extraordinário, que nada teria a ver com a vida cotidiana nem com a eleição futura.

    Ocorre que o retorno ao status quo anterior mostrou-se parcial. Dilma recuperou o suporte de menos da metade dos que a apoiavam antes, tendo parado de crescer em fevereiro. Em decorrência, os números agora apurados são importantes não tanto pela queda em si, que ainda está próxima da margem de erro –sendo, portanto, de difícil avaliação–, como pelo fato de parecer indicar que a outra metade perdida em junho pode estar mesmo em busca de novas opções para dirigir o país.

    Das cartas em jogo, a única que teve crescimento no conjunto do eleitorado foi Marina Silva, justamente a liderança que saiu fortalecida pelos Acontecimentos de Junho (Eduardo Campos, o provável candidato da chapa PSB-Rede, variou dentro da margem de erro). A diferença entre Dilma e Marina caiu de 20 para 12 pontos percentuais.

    Em artigo publicado pela revista Novos Estudos em dezembro último, procurei mostrar por que o centro pós-materialista saiu revigorado daquele cruzamento inédito de classes e ideologias na rua. Em resumo, o argumento é que o centro representado por Marina pode assumir, exatamente por ser centro, bandeiras priorizadas pela esquerda (saúde padrão Fifa) e pela direita (combate à corrupção), ao mesmo tempo. Acresce que Marina preserva imagem de nítida probidade pessoal.

    Os números atuais não representam nada além de uma passagem específica em um percurso que ainda será longo e cheio de curvas, até porque Marina não é, por enquanto, candidata a presidente. Mas o sinal está amarelo-piscante para Dilma, que precisa conter a inflação e fazer a economia andar, e para Campos, que precisa obter da companheira de chapa uma abdicação definitiva.

    avsinger@usp.br

    andré singer

    É cientista político e professor da USP, onde se formou em ciências sociais e jornalismo. Foi porta-voz e secretário de Imprensa da Presidência no governo Lula.
    Escreve aos sábados.

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