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    André Singer

    O pivô

    25/04/2015 02h00

    Como se pode observar no quadro abaixo, o apoio ao projeto de lei 4.330 na Câmara dos Deputados quarta-feira passada foi o mesmo no PMDB e no PSDB. Juntos, os dois derrotaram o PT. Os demais partidos, em graus variados, se distribuíram entre esses polos. O PP se alinhou ao bloco conservador. O PDT e o PC do B marcharam contra a terceirização. O PSB ficou em posição intermediária.

    Editoria de Arte/Folhapress

    Para chegar a tais resultados, computei os votos a favor do PL 4.330 em cada agremiação sobre o total de deputados votantes do partido. No caso do PMDB, considerei como favorável também o presidente da Casa, Eduardo Cunha, pelo empenho em aprovar a medida. Na prática, houve uma aliança entre peemedebistas e tucanos para dar sequência ao desmonte da CLT iniciado nos tempos de FHC, o qual foi brecado com a eleição de Lula em 2002.

    O breque foi uma das razões pelas quais, nos debates sobre o caráter do lulismo, insisti que era errado chamá-lo de neoliberal. Talvez não tenha ocorrido, como assinalavam alguns, forte expansão de direitos, mas sem dúvida houve um stop na ofensiva desregulamentadora que o PSDB capitaneara. O paradoxo é que agora a precarização pode recomeçar sob o mesmo governo lulista. Como explicar tal virada?

    Desde o fim de 2012, com as "101 propostas para modernização trabalhista" da Confederação Nacional da Indústria (CNI), cresceu a pressão empresarial para flexibilizar as regras que protegem o trabalhador. A crise econômica mundial e o ensaio desenvolvimentista de Dilma, ao que tudo indica, desmontaram a coalizão entre sindicatos e industriais herdada do período áureo do lulismo. Este foi o pano de fundo da eleição de 2014.

    O PMDB da Câmara, dirigido por personagem frio e determinado, entendeu que, ao chamar Joaquim Levy para a Fazenda, Dilma adotou o programa do capital e tirou todas as consequências do fato. Mandou o PT para a oposição e, funcionando como pivô, juntou-se ao PSDB para completar a redução do custo da mão de obra que o desemprego, fruto da recessão programada por Mãos de Tesoura, promete.

    Ainda existe o Senado e um possível veto da presidente para sabermos se o lulismo irá mesmo mudar de caráter. Quem viver verá.

    andré singer

    É cientista político e professor da USP, onde se formou em ciências sociais e jornalismo. Foi porta-voz e secretário de Imprensa da Presidência no governo Lula.
    Escreve aos sábados.

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