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    André Singer

    Grito de alerta

    27/06/2015 02h00

    Os resultados do Congresso do PT decepcionaram, mas nesta semana a Executiva do partido deu um passo para desatar o nó que, além de já ter levado o partido ao volume morto, ameaça sufocá-lo de vez. Na resolução aprovada na quinta-feira, a direção partidária aponta que são "necessárias medidas urgentes de reorientação" da política econômica.

    De fato, sem mudar o rumo da economia, o fundo do poço vai ser ainda mais baixo do que o ponto a que caíram tanto a gestão Dilma quanto a preferência pelo Partido dos Trabalhadores. A primeira conta hoje com apenas 10% de aprovação (ótimo e bom), segundo o Datafolha, e a sigla petista está com 11% das preferências, pela primeira vez em empate técnico com o PSDB (9%).

    Para quem chegou a ter 65% de apoio, a queda de Dilma é brutal. Chama a atenção, em particular, a redução no segmento mais pobre. Ali, a rejeição (ruim/ péssimo) à presidente subiu de modo exponencial, passando de 15% em outubro de 2014 para 62% agora.

    Se o subproletariado, em bloco, consolidar o ponto de vista de que o governo traiu seus compromissos, o alinhamento estabelecido em 2006 vai se desfazer. Em outras palavras, agora o lulismo corre risco de verdade. Embora Lula ainda tenha 32% das intenções de voto no segmento, isso representa cerca da metade do que amealhou na sua reeleição.

    A crise do lulismo, como não poderia deixar de ser, leva o PT junto. Uma vez que o partido, desde 2002, amarrou o seu destino ao projeto lulista, fica condicionado a ele, para o bem e para o mal. Não por acaso, em março de 2013, quando Dilma alcançou o auge da popularidade, a agremiação também encontrou o nirvana: 29% das preferências. Na época, os principais concorrentes, PSDB e PMDB, giravam em torno de 6%.

    Outra das pontas do laço que aperta o pescoço do partido são as denúncias de corrupção, às quais não sabe como responder. Depois que o congresso partidário recuou da recusa às doações de empresas, recaiu-se numa atitude que não enfrenta o fundo do problema. Para recuperar autoridade moral o partido precisaria explicar o que aconteceu e dizer o que vai fazer para que não volte a acontecer.

    Mas os efeitos eleitorais da corrupção são relativos (o que não justifica relativizar o problema). Ficam fortes quando a economia vai mal e se diluem em momentos de expansão. Veja-se que o PT conseguiu ganhar a Prefeitura de São Paulo, que desequilibra o balanço dos pleitos municipais, mesmo depois de o julgamento do mensalão ser transmitido diuturnamente pelas TVs.

    Caso o grito de alerta da direção não seja ouvido, o PT corre sério risco. Na dúvida, consulte-se o histórico do PMDB depois do governo Sarney.

    andré singer

    É cientista político e professor da USP, onde se formou em ciências sociais e jornalismo. Foi porta-voz e secretário de Imprensa da Presidência no governo Lula.
    Escreve aos sábados.

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