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    André Singer

    Mudar já

    25/06/2016 02h00

    Faltam pouco mais de três meses para as eleições municipais e é neste momento que os partidos definem os planos de campanha. Por que não aproveitar o vasto desmonte produzido pela Lava Jato — nesta quinta (23) reforçado com as prisões da Operação Custo Brasil — e dar início à reforma política na prática? A proposta, como se verá, demanda apenas vontade política.

    Devido à proibição de contribuições por parte de pessoas jurídicas, as empresas não podem mais ser financiadoras dos partidos. Além disso, os empresários, como pessoas físicas, devem estar ressabiados pelas inéditas prisões que atingiram donos de conglomerados, além da crise econômica. Restam as doações de simpatizantes, cujo montante não costuma ser alto.

    Em consequência, resultará muito difícil pagar, ao menos por vias legais, os caríssimos filmes publicitários que ocupam o horário eleitoral gratuito. Sabe-se que esse é o principal sorvedouro do dinheiro arrecadado. Em consequência, alguns dos grandes nomes do marketing eleitoral já se declararam fora do páreo.

    Eis a chance para que candidatas e candidatos façam do limão uma limonada. Em lugar de colocar na tela peças precárias ou arriscar-se a ver a Federal bater na porta meses mais tarde, poderiam apresentar-se ao público apenas como mulheres e homens com propostas para as cidades que desejam governar. Sairiam as irreais cenas de creches, escolas, postos de saúde e hospitais pintados para a ocasião e entraria na casa do eleitor a capacidade de convencimento dos que se dispõem a liderar a sociedade.

    Mas e se o meu adversário/a continuar a usar as técnicas tradicionais, vão questionar os que ao menos queiram considerar a sugestão, estarei perdido/a de antemão? A pergunta procede, pois a marquetagem é calcada em linguagem propagandística com a qual a plateia está acostumada.

    No entanto, os recalcitrantes deveriam considerar dois argumentos. O primeiro é que a fórmula de falar diretamente para a câmara foi utilizada, com sucesso, em diferentes contextos democráticos nacionais e internacionais. O segundo é o benefício de poder afirmar que se está fazendo uma divulgação comprovadamente barata — hoje em dia para falar ao público basta ter computador em casa —, enquanto os adversários mantém padrão suspeito.

    A opção pelo baixo custo no pleito local poderia ser a experiência prática necessária para propiciar legislação nesse sentido referente a 2018. Em tempos de justificada indignação com os desvios revelados pela Lava Jato e filhotes, está na hora de os partidos saírem da mesmice, se quiserem sobreviver. O Brasil custou muito a construí-los e desconfio que, se os perdermos, o que virá pela frente será pior.

    avsinger@usp.br

    andré singer

    É cientista político e professor da USP, onde se formou em ciências sociais e jornalismo. Foi porta-voz e secretário de Imprensa da Presidência no governo Lula.
    Escreve aos sábados.

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