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    André Singer

    Eleição indefinida deixa cenários abertos

    01/10/2016 02h00

    Chello/FramePhoto/Folhapress
     Debate de TV com os principais candidatos à Prefeitura de São Paulo, promovido pela TV Globo, nesta quinta-feira (29), em São Paulo
    Candidatos à Prefeitura de São Paulo participam de debate da Rede Globo na quinta-feira (29)

    Com a eleição indefinida à véspera do primeiro turno, diversas possibilidades de interpretação estão abertas. Das seis capitais com maior peso político, apenas uma — Salvador, com ACM Neto (DEM) — deve decidir a parada neste domingo (2). Nas outras cinco, o jogo se encontra incerto.

    Apesar da nítida e esperada primazia dos partidos alinhados ao novo governo, a atual oposição luta para sobreviver. O PT aparece com chance de ir ao segundo turno em Porto Alegre, São Paulo e Recife. No Rio de Janeiro, o PSOL está na briga para chegar à final. Apenas em Belo Horizonte os agrupamentos que se opõem a Michel Temer se encontram, a julgar pelas pesquisas, fora do páreo.

    Mas nas quatro cidades em que pode haver confronto direita-esquerda, os candidatos progressistas, caso passem, começariam em desvantagem. Sebastião Melo (PMDB), em Porto Alegre, João Doria (PSDB), em São Paulo, Marcelo Crivella (PRB), no Rio de Janeiro, e Geraldo Julio (PSB), em Recife, ocupam o topo das intenções de voto. São tecnicamente favoritos, portanto.

    No segundo turno, imagina-se que a esquerda tenda a se unificar em torno daquele que continuar adiante. Na capital gaúcha, onde Luciana Genro (PSOL) detém um eleitorado significativo, e na carioca, em que Jandira Feghali (PC do B) pontuava perto dos colocados em segundo lugar, supõe-se que o apoio respectivo a Raul Pont (PT) e Marcelo Freixo (PSOL) ajude a equilibrar a disputa, se ocorrer. Mesmo em São Paulo, em que a candidatura de Luiza Erundina (PSOL) não decolou, o seu apoio a Haddad fará diferença, se este conseguir permanecer na contenda.

    Isso mostra o quanto a incapacidade de se unir prejudicou a esquerda. Caso PT, PSOL e PC do B estivessem juntos, é provável que Haddad, Freixo e Pont se encontrassem automaticamente no segundo turno. Divididos, abriram espaço para que Celso Russomanno (PRB) ou Marta Suplicy (PMDB), em Sampa, Pedro Paulo (PMDB), no Rio, e Nelson Marchezan Júnior (PSDB), em Porto Alegre, possam reduzir a competição a um acerto de contas entre aliados.

    No que diz respeito à base governista, aliás, interessa observar, de um lado, o bom desempenho do Democratas (Salvador) e do PSB (Recife), embora como forças mais de tipo regional, e a competição nacional entre PSDB e PMDB, de outro. A possível vitória dos tucanos em São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre os fortalece para 2018. Uma eventual primazia peemedebista no Rio e em Porto Alegre, para não falar de São Paulo, alimentaria a postulação de Temer.

    Corre por fora o Partido Republicano Brasileiro (PRB), ligado à Igreja Universal, cujas candidaturas em São Paulo e Rio mostram que o projeto dessa confissão vai bem mais longe do que se imaginava.

    andré singer

    É cientista político e professor da USP, onde se formou em ciências sociais e jornalismo. Foi porta-voz e secretário de Imprensa da Presidência no governo Lula.
    Escreve aos sábados.

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