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    André Singer

    Convergência inesperada pode unir contrários

    18/03/2017 02h00

    Marlene Bergamo-15.mar.2017/Folhapress
    COTIDIANO/PODER - GRANDE ATO UNIFICADO contra as Reforma da Previdencia e Trabalhista. O ex presidente Lula esteve presente.15/03/2017 - Foto - Marlene Bergamo/Folhapress - 017 -
    Ex-presidente Lula em ato contra a reforma da Previdência na avenida Paulista, em São Paulo

    Ainda que aparentemente desligados, dois fatos recentes podem convergir mais adiante. É que tanto as manifestações contra a reforma da Previdência quanto os pedidos de inquérito enviados por Rodrigo Janot ao Supremo Tribunal Federal (STF) desembocam no Congresso. Os legisladores que decidirão sobre as aposentadorias são os mesmos que precisam de apoio popular para salvar-se das acusações em curso.

    A jornada nacional de paralisação na quarta-feira (15), originária das grandes organizações sindicais, atingiu o cidadão comum, diferentemente do que aconteceu com a luta contra a PEC dos gastos públicos. Embora seja apenas um passo inicial, cabendo verificar se irá se espalhar, trata-se da primeira reação potente ao governo Temer.

    As antenas do Congresso captaram o estado de espírito da população. Tanto é assim que até o PSDB, entusiasta do austericídio, começou a se mexer para flexibilizar a proposta estruturada por Henrique Meirelles. Em entrevista radiofônica concedida um dia depois das manifestações, o governador Geraldo Alckmin evitou comprometer-se com a idade mínima de 65 anos.

    Convém notar, por outro lado, que a presença de Lula, figura principal no protesto em São Paulo, coloca o campo que está contra o corte de direitos a favor de alguma solução que permita aos maiores partidos (tucanos incluídos) disputar, com chances, a eleição do ano que vem. Não por acaso, a proposta de voto em lista fechada acoplada ao voto distrital misto, defendida nesta semana pelo deputado Vicente Cândido (PT-SP), tem cara de acordo entre petistas e peessedebistas. Existe uma aproximação objetiva das agremiações que possuem, hoje, mais possibilidade de vencer o pleito de 2018, pois ambas querem ter seus principais líderes e candidatos preservados.

    Não necessariamente as soluções propostas por esse consórcio são mera picaretagem. Se é verdade que a lista fechada retiraria do eleitor o monopólio de ordenar a colocação dos candidatos, podendo facilitar a reeleição de acusados, há variadas formas de minorar o problema. Por exemplo, o eleitor escolher a lista partidária de sua preferência, que seria pré-ordenada, mas ao mesmo tempo indicar um nome dentro da lista, influenciando assim a posição final do candidato.

    Em resumo, ainda que incipiente, observa-se um movimento com vistas a unificar maiorias partidárias e sociais em torno de saídas intermediárias, tanto na Previdência quanto na reforma política. O problema é que, por ora, tais iniciativas encontram forte resistência da opinião pública, da mídia e do Partido da Justiça, os quais seguem compreensivelmente orientados pelas incríveis denúncias de corrupção que continuam a jorrar dia a dia.

    andré singer

    É cientista político e professor da USP, onde se formou em ciências sociais e jornalismo. Foi porta-voz e secretário de Imprensa da Presidência no governo Lula.
    Escreve aos sábados.

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