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    André Singer

    Candidatura de Doria é uma aventura desesperada

    01/04/2017 02h00

    Rivaldo Gomes - 2.jan.17/Folhapress
    SAO PAULO, SP, BRASIL, 2-1-2017 - PRIMEIRO DIA UTIL DE JOAO DORIA - 05:47:02 - Em seu primeiro dia util de trabalho, um dia apos ser empossado, o prefeito Joao Doria, cumpriu a promessa e se vestiu de gari, na praca 14 Bis, no Bela Vista, na regiao central, no inicio desta manha desta segunda-feira. (Foto: Rivaldo Gomes/Folhapress, NAS RUAS) ***EXCLUSIVO AGORA *** EMBARGADA PARA VEICULOS ONLINE *** UOL E FOLHA.COM CONSULTAR FOTOGRAFIA DO AGORA *** FOLHAPRESS CONSULTAR FOTOGRAFIA AGORA *** FONES 3224 2169 * 3224 3342 ***
    Vestido de gari, prefeito de São Paulo, João Doria, tira selfie em seu primeiro dia útil de trabalho

    A ascensão de João Doria no PSDB é sinal do desespero que tomou conta dos partidos tradicionais. Diante da aniquilação que a Lava Jato vem produzindo, surge todo tipo de ideias bizarras, sonhos pueris e ambições midiáticas. A destruição partidária pode levar o Brasil a cronificar a instabilidade deflagrada com o impeachment de Dilma Rousseff.

    Ao atual prefeito de São Paulo falta o componente essencial para postular o cargo. Não se trata de experiência na administração pública -afinal Fernando Henrique Cardoso e Lula também prescindiam de currículo na área quando assumiram o posto mais importante do país. Doria carece é de um projeto nacional que esteja ancorado em bases sociais consistentes.

    Poder-se-ia argumentar que tanto FHC quanto a principal figura petista traíram a própria trajetória ao assumir o Planalto. Com efeito, Fernando Henrique ignorou o discurso ético do PSDB e aliou-se ao que havia de mais fisiológico no Congresso. Lula, por sua vez, arquivou a postura anticapitalista do PT e estabeleceu fortes vínculos com o capital.

    No entanto, ambos o fizeram em nome de realizar mudanças —em sentido respectivamente oposto— que tinham relação com o acúmulo anterior dos seus partidos. Cardoso alinhou a nação brasileira à globalização neoliberal, obtendo em troca a estabilidade monetária. Lula estabeleceu marco inédito nos investimentos voltados aos mais pobres, reforçando ao mesmo tempo a confiança na democracia.

    As opções tomadas foram difíceis e tiveram altos custos, sem que o espaço me permita detalhá-los aqui. Basta dizer que no interior das duas agremiações majoritárias houve choro e ranger de dentes. No final, contudo, a maioria sustentou as lideranças presidenciais, criando as condições para efetivar os programas por eles traçados.

    FHC e Lula tinham legitimidade por resultarem de um lento enraizamento durante a luta contra a ditadura. Surgidos para a política representativa entre os anos 1970 e 1980, o professor renomado e o sindicalista carismático haviam contribuído para a construção de instituições desde a sociedade. Perto deles, Doria soa apenas como um empresário "pop star" que flutua nas telas.

    É verdade que PSDB e PT encontram-se numa tremenda encalacrada, assim como tudo o que foi construído desde a redemocratização. Tendo se envolvido, ao que parece, no sistema corrupto de financiamento político vigente a partir de 1945, os irmãos-adversários podem acabar ambos tragados pela Lava Jato. Mas se buscarem atalhos em lugar de uma renovação profunda, aí, sim, a porta será aberta para aventuras que nunca terminam bem.

    Os exemplos de Jânio Quadros e Fernando Collor estão aí para nos lembrar.

    andré singer

    É cientista político e professor da USP, onde se formou em ciências sociais e jornalismo. Foi porta-voz e secretário de Imprensa da Presidência no governo Lula.
    Escreve aos sábados.

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