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    Antonio Delfim Netto - Euclides Santos Mendes

    Relação de troca

    29/05/2013 03h30

    Uma variável importante que não influi na produção física do PIB, mas que afeta a renda e o nível de bem-estar da sociedade, é a chamada "relação de troca", ou seja, o quociente entre os preços médios das exportações e das importações.

    Para simplificar e entender o fato, suponhamos que num momento determinado (ontem) os preços das exportações e das importações fossem tais que uma tonelada de bens físicos exportados comprasse exatamente uma tonelada de bens físicos importados. A relação de troca seria um.

    Suponhamos que no momento seguinte (hoje), devido ao aumento da demanda externa global ou a respostas diferentes dos preços à inflação da unidade de medida de valor (dólar), os preços de nossas exportações cresçam 10% e o de nossas importações cresçam 5%. A nova relação de troca seria igual a 1,10 dividido por 1,05, ou seja, 1,05.

    Em termos físicos, uma tonelada de nossas exportações compraria agora 1.050 quilos de importações. O setor exportador foi "premiado" com um bônus de 50 quilos de bens importados e viu seu nível de renda aumentado. Não houve qualquer mudança no processo produtivo, mas tudo se passa como se o setor exportador tivesse aumentado a sua produtividade em 5%! É por isso que a relação de troca é um importante determinante da taxa de câmbio real, como comprovam muitos estudos empíricos bem-feitos.

    Não é difícil entender, portanto, por que, num "ciclo de aumento da relação de troca", aumenta o nível de bem-estar da sociedade: a renda cresce mais do que o PIB. Nos últimos 40 anos, o Brasil viveu três movimentos notáveis de aumento da sua relação de troca. Seus "picos" foram em 1977, 1997 e 2011. Os ciclos tendem a durar de quatro a cinco anos no desvio para cima da média secular e outros tantos no retorno. Não há, entretanto, qualquer regularidade discernível nesse processo.

    O último "ciclo" aparentemente terminou em 2011. Desde então, a relação de troca vem diminuindo, o que significa que o crescimento da renda real tem sido inferior ao crescimento do PIB real. Tudo indica que o fenômeno vai prosseguir pelos próximos três ou quatro anos.

    Sua profundidade vai depender do sucesso do governo chinês de reequilibrar a sua economia e manter um ritmo razoável e sustentável de seu crescimento. Isso significa uma mudança estrutural importante: deslocar parte do seu aparato exportador para a produção do consumo doméstico e aumentar as garantias sociais de uma população em crescente processo de urbanização. Não será nada fácil. A China vai ter que "trocar os pneumáticos do seu caminhão com ele andando".

    ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras nesta coluna.

    antonio delfim netto

    Ex-ministro da Fazenda (governos Costa e Silva e Médici), é economista e ex-deputado federal. Professor catedrático na Universidade
    de São Paulo.
    Escreve às quartas-feiras.

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