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    Antonio Delfim Netto

    Barulho

    16/04/2014 03h30

    As pesquisas do Datafolha têm alta credibilidade. A última revelou que, na situação atual, de cada três cidadãos amostrados, dois esperam um aumento da taxa de inflação. Trata-se de informação que merece cuidado. Parece que o "barulho" feito em torno dela é um pouco exagerado.

    Por definição, o Banco Central deveria trabalhar com a missão de manter a taxa de inflação em torno da "meta" estabelecida pelo governo, que é de 4,5% ao ano, com uma banda de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo (portanto, entre 2,5% e 6,5%) para acomodar flutuações de curto prazo advindas de emergências dificilmente previsíveis ou impossíveis de serem contornadas, como fenômenos meteorológicos adversos.

    Qual é a situação atual? Os fatos são os seguintes: 1º) no período 2000-2013, a taxa de inflação média registrada foi de 6,5% (o limite superior da banda de tolerância). Não há desculpa para tal laxismo; 2º) a taxa de inflação acumulada nos últimos 12 meses, terminados em março de 2014, é de 6,15%; a dos serviços, de 9,1%; a da alimentação, de 7,1%, além dos preços reprimidos; 3º) estamos num daqueles eventos imprevisíveis e incontornáveis, no momento em que há pouco espaço livre na banda de tolerância: uma seca de proporções catastróficas afeta os preços agrícolas e põe em dúvida o suprimento de água e o custo da energia hidráulica. Não é, portanto, sem razão que a sociedade manifesta sua preocupação, uma vez que a probabilidade de a taxa de inflação superar o limite de tolerância superior da banda é muito alta.

    É preciso, entretanto, relativizá-la: 1º) porque a pressão sobre os preços de alimentos tende a acomodar-se naturalmente dentro do ano; 2º) porque, como o Banco Central afirmou na sua ata da reunião do Copom, realizada nos dias 1º e 2 de abril, num longo parágrafo (32), já aumentamos a taxa de juro básica em 375 pontos desde abril de 2013, e seus efeitos "têm se propagado normalmente por intermédio dos principais canais de transmissão e assim tendem a continuar nos próximos trimestres"; 3º) porque o aumento do preço da energia (elétrica e petróleo) vai sendo adiado e não terá efeito em 2014; e 4º) porque, como disse o presidente do BC, Alexandre Tombini, "não há metas intermediárias dentro do ano-calendário. Vamos manter a inflação dentro de nossa banda, pois nosso sistema é estabelecido para atingir o objetivo no fim do ano".

    Diante dessas condições, é muito provável que a taxa de inflação de 2014 fique abaixo do limite superior da banda de tolerância. É claro, entretanto, que devemos ajustar a política econômica (fiscal, monetária e cambial) para fazê-la retornar, num prazo razoável, à meta de 4,5%.

    antonio delfim netto

    Ex-ministro da Fazenda (governos Costa e Silva e Médici), é economista e ex-deputado federal. Professor catedrático na Universidade
    de São Paulo.
    Escreve às quartas-feiras.

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