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    Antonio Delfim Netto

    Tragédia

    21/05/2014 02h00

    Os excelentes economistas Carlos Antônio Rocca e Lauro dos Santos Junior, do Centro de Estudos do Mercado de Capitais do Ibmec (Cemec), acabam de divulgar um trabalho fundamental para o entendimento do que está acontecendo no cerne da economia brasileira, "Investimentos das Companhias Abertas e seu Financiamento no Período 2005 a 2013". A tradição dos estudos dos ilustres professores é de ir à economia quantitativa realmente séria. Vão à "salsicha" para ver como ela é feita. Não se perdem nas receitas de como elas deveriam ser feitas, que tanto encantam os neoliberais e heterodoxos que infestam o cenário econômico nacional.

    Editoria de arte/Folhapress

    As contas nacionais dos últimos anos revelam uma taxa de investimento em níveis próximos de 20% do PIB no período 2010-2011, reduzida para 18% em 2013 (menos 2%). A taxa de poupança doméstica caiu ainda mais no mesmo período: de 17% para 14% (menos 3%), o menor nível desde 2002. Isso sugere que o aumento do consumo doméstico foi financiado pela poupança externa: o deficit em conta corrente aumentou de 2,5% do PIB em 2011 para 3,6% em 2013.

    Em trabalho anterior os mesmos economistas mostraram que a maior parte da queda da poupança interna não resultava da redução da poupança das famílias, mas, essencialmente, da queda da poupança das empresas evidenciada na redução do importante fluxo dos lucros retidos, fundamental para financiar os investimentos. O novo trabalho tenta quantificar em que medida as companhias abertas, não financeiras, contribuíram para aqueles resultados, a partir de uma análise dos dados obtidos com a consolidação de balanços das empresas que compõem a base de dados da consultoria Economática.

    Estudos como esse são sempre sujeitos a "armadilhas" metodológicas que os autores identificam e procuram evitar. A conclusão mais importante é que "as empresas abertas não financeiras reduziram sua poupança e investimento de forma ainda mais acentuada que o conjunto das empresas não abertas". E que, "em geral, optaram em reduzir os investimentos, manter a distribuição de dividendos, reduzir a participação de recursos próprios e aumentar suas dívidas para financiar os menores investimentos", o que terá graves consequências sobre o crescimento futuro. O gráfico acima resume a tragédia.

    antonio delfim netto

    Ex-ministro da Fazenda (governos Costa e Silva e Médici), é economista e ex-deputado federal. Professor catedrático na Universidade
    de São Paulo.
    Escreve às quartas-feiras.

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